sábado, 23 de abril de 2016

O Tempo Não Para

O escritor argentino Jorge Luis Borges escreveu que Freud reduziu o ser humano a um punhado de pulsões desagradáveis. Ele preferia Jung e eu também, mas é com as pulsões freudianas que temos que nos haver no dia a dia. Nos estertores do seu desgoverno, Dilma apela para os circuitos psíquicos freudianos, como se as bestas do Apocalipse estivessem chegando. Ela apela ao Circuito Oral de Biossobrevivência, afirmando que os golpistas vão abolir o Bolsa Família. Apela também ao Circuito Anal de Territorialidade, afirmando que o espaço adquirido pelas pessoas desfavorecidas vai ser retirado: direitos das empregadas domésticas, financiamento de cursos superiores e investimentos sociais, tudo isso vai ser retirado por Michel Temer que, Antonio Carlos Magalhães tinha razão, parece mesmo um mordomo de filme de terror. Finalmente, essa senhora tresloucada vai para a ONU falar que está sendo invadida por uma camarilha sedenta de poder. Eles estão sendo motivados pelos Circuitos Genitais de subjugar e possuir, o mais de gozar da horrenda elite branca. Uma cartilha de pulsões freudianas, usadas a favor de sua manipulação. A manipulação do Medo e da Ira, que é carne de vaca para manobrar as massas.
Jung tinha uma frase terrível sobre a Sombra: Você sempre se torna aquilo que combate. O PT se transformou em tudo aquilo que combateu. Ou pior: o PT de verdade, a militância que vai para a rua com as suas pulsões freudianas ativadas, são pessoas de bem que acreditam bovinamente nos botões de seu Cérebro Emocional que estão sendo maliciosamente apertados. Foi uma minoria sedenta de poder e de vinganças anos 70 que se apossou e aparelhou o estado, tentando, esses sim, controlar tudo, em busca de uma utopia bolivariana e cubana. O preço do controle é o nivelamento por baixo. Na Venezuela, o preço é a falta de papel higiênico nos banheiros. Em Cuba, é a extinção da vida inteligente na vida pública, já que a inteligência implica na contradição.
A despeito de Borges, vivemos num mundo dominado pelas pulsões freudianas. As mídias, a propaganda, os programas dos Datenas, batem o tempo todo em pulsões de Morte, de Medo, de Cobiça. Nos países onde não chegava a televisão foi possível estudar diretamente os efeitos da hipermídia na sociedade. Dispararam os índices de criminalidade e violência. Por outro lado, tomou corpo a conscientização das minorias, como as mulheres e os homossexuais, que passaram a se organizar e lutar por seus direitos. Não há avanço sem perdas, não há liberdade que não incorra em excessos. Mas o pior é a tentativa de controle pulsional das massas através de seus medos.
Lembro de um sonho de um paciente, que estava numa estação de trem, junto com o seu filho pequeno, e, por algum motivo, a criança saiu do vagão e o impediu de voltar. Tomado pela cólera, ele bateu e bateu na criança até que ela se transformou em um feto encolhido. Ele acordou horrorizado. Vivemos num mundo onde somos guiados como manadas para dentro desses trens, onde nos dizem como pensar, o que comer, o que vestir e com quem fantasiar no escuro do cinema. O nascimento de seu filho obrigou o paciente a pular do trem e desenvolver a sua consciência. Não por acaso ele começou a apresentar crises de Pânico algumas semanas depois de trocar a primeira fralda. O ódio que o fez acordar horrorizado foi o de ter que olhar para as próprias feridas e medos, o que começa no momento em que o primeiro exame materializa, que a sua vida mudou e agora você é um pai. A continuação possível do sonho é que aquele feto cresceu dentro de sua Psique, as crises de Pânico foram embora e ele tornou-se um pai melhor do que seu pai tinha conseguido ser. Foi bom ter descido do trem e aprendido a andar com suas pernas.
A revolução possível é a da Consciência. Eu fico realmente abismado em perceber que a presidente Dilma, após seu governo e o de Lula ter destruído tudo o que tocou com as suas mãos, incluindo Economia, Estatais e setor produtivo, tem a clara, cristalina ideia de que o Bem está do seu lado e os Outros são o Mal por trás do pau de arara. Como alguém pode ser possuído pelo trem de suas crenças e não conseguir minimamente, tomar consciência de seus erros de avaliação e de entendimento do mundo? Diria Cazuza que “A sua piscina tá cheia de ratos/Suas ideias não correspondem aos fatos”. Mas o tempo não para.

domingo, 17 de abril de 2016

Lula, Dilma e a Hormese

Vou colocar uma objeção nova à ideologia canhestra do Lulopetismo: o meu problema com essa pseudoesquerda peronista\getulista é a criação de um estrato de humanos sub humanos pela obstrução de qualquer acesso à dificuldade. Ouvi de um empresário que tinha muitos problemas em contratar pessoas em indústria no Nordeste porque os trabalhadores tinham medo de perder o benefício do Bolsa Família. Um programa assistencialista cristaliza a pobreza e, pior, cristaliza na pessoa menos favorecida a impressão que vai sempre precisar de ajuda. Ajuda de um Estado Onipotente, com recursos ilimitados. Como já sabemos, o Estado Deus logo vira Estado no Inferno. Dilma é o Estado no Inferno.
Pesquisadores e psicólogos tem informalmente descrito a geração Nem Nem Nem, ou seja, Nem trabalha, Nem Estuda, Nem Faz Coisa Nenhuma (o “Coisa” é uma gentileza com os leitores. O termo é outro, podemos imaginar). Vivemos uma época cravada de condescendência. Autoestima é muito diferente de Autopiedade. A geração Nem Nem Nem geralmente conta com estrutura familiar frouxa. O jovem fica estacionado no limbo entre a Adolescência e a Vida Adulta. Não pode ser cobrado, não pode perder seus confortos. Muitas vidas já estão profundamente comprometidas por essa narcose.
Levantei nesse blog uma questão na época das invasões das escolas de São Paulo, com a ocupação de avenidas de São Paulo por estudantes e representantes da APEOESP, entidade representativa de professores que pagaram propaganda em horário nobre. Os professores atacaram a reforma catastrófica do Governo Alkmin (que hoje está sendo realizada silenciosamente, sem alarde e carros de som). Mas os mesmos professores tem pouco a dizer sobre os resultados ridículos de seus alunos em exames nacionais. Uma ordem de Direitos sem Deveres cai sempre na Perversão. Esse é o ponto.
Hormese é um termo pouco conhecido da Biologia. Foi descrito em função do efeito benéfico de substâncias tóxicas ou agentes estressores nos processos orgânicos como um todo. O exercício físico, por exemplo. Cria inicialmente estressores físicos e algum desconforto. Aumento de batimento cardíaco, sudorese, respiração difícil. A reação do organismo a esses estressores responde por muito dos benefícios do exercício: hormônios, endorfinas, neurotransmissores, tudo é produzido para enfrentar o aumento de carga. Com o tempo, Mente e Corpo ficam melhores e mais afiados, após enfrentamento das dificuldades iniciais. Infelizmente, a grande maioria dos candidatos a atletas desistem nessa fase, a das dificuldades, antes que os benefícios apareçam e se consolidem. Hormese, portanto, é um conceito que fala dos benefícios do Stress em nossa vida diária. Viver estressado é tão ruim quanto viver sem nenhum desafio. Vivemos tão imersos nos adesivos de No Stress que mal sabemos que No Stress é uma forma lenta e infalível de morte.
Desconfio que a tal da droga do Câncer, a Fosfoetanolamida, seja uma substância que induz uma reação hormética do organismo como um todo, sobretudo do Sistema Imune. É claro que seu efeito pode ser de um gigantesco placebo, mas pode haver outra ação que vai levar muito tempo para ser provada. Estudos bem preliminares não provaram efeito direto da Fosfo em células cancerosas, ao contrário da ideia inicial de seu “criador”. Pode ser que seu efeito seja de estímulo indiscriminado da resposta imune, daí a sua ação em diversos processos diferentes. Mas isso é obviamente uma suposição.
Hoje à noite muito provavelmente vamos assistir ao fim desse período histórico em que o país foi envenenado por essa ideologia de condescendência, autocomiseração e avacalhação generalizada. Como eu já mencionei em outros post, isso não é privilégio do lulopetismo. George W. Bush, que está muito longe de ser um comunista, quebrou o seu país com a mesma ideologia de fazer o que bem entendia se lixando para a opinião pública. Como agora no Brasil, a cultura da avacalhação e putaria generalizada levou o país à bancarrota e à Depressão Econômica. A diferença é que o fofo Geroge W. foi para a lata de lixo da história. Já o Brasil, com quase metade da população de analfabetos funcionais, não entende o que está acontecendo em Brasília e sonha com a volta de Lula ao poder. E muita gente ilustrada acha que assistencialismo é justiça social. Cuidar e desenvolver é sobretudo, ensinar a enfrentar e vencer obstáculos. Mas tem muita gente que vai fazer de tudo para contornar, não resolver, as dificuldades.

domingo, 10 de abril de 2016

Nossa Senhora Desatadora de Nós

Todo mundo nessa vida, inclusive esse escriba que vos tecla, tem um, ou vários nós na vida que não consegue desatar. Dilma Roussef sabe muito bem do que estou falando. A Bíblia alerta sobre o Orfão e a Viúva. Ai de quem mexer com o Orfão e com a Viúva. Sempre achei que puseram estas palavras na boca de Jeová para alertar os patrícios para cuidar da legião de órfãos e viúvas que se produzem em tempos de guerra. O Deus do Velho Testamento é frequentemente invocado para proteção dos ataques dos inimigos, para criar um escudo indestrutível contra as flechas venenosas e os animais peçonhentos. Um deus da Guerra. Cuidar de órfãos e viúvas é tarefa dos sobreviventes. Com o passar dos anos e com um capítulo em livro de Edward Edinger, comecei a perceber que Orfão e Viúva, além de uma questão social em tempos de guerra, também são arquétipos, que estão bem perto deste Arquétipo spinelliano, que é o Arquétipo do Grande Nó. Explico. Calma que eu explico.
No geral, temos os dois arquétipos em nossa Psique. Mas a tendência é que homens tenham mais a predominância do Orfão e as mulheres, da Viúva. Os livros de autoajuda e os vídeos do Youtube prometem, a grosso modo, sucesso profissional e Ferraris para os homens, e Amor Eterno com Alma Gêmea para as mulheres. O homem imagina que o Pai simbólico vai guiá-lo pelo labirinto da vida para atingir o sucesso e o poder. Quando Jesus foi tentado pelo Demônio, recebeu a oferta de abundância, de poder sobre as coisas da Terra e sobre a própria morte, e Jesus refutou todas as tentações. O PT, não. Mas esta é outra história.
O Orfão talvez represente a grande ferida do Masculino. Édipo é abandonado para morrer por seu próprio pai, Laio. E carrega sua dor pelo resto da vida, mancando. Ele tenta superar a sua orfandade através de um destino heróico. Ser o Rei, vencer os monstros, ser campeão, ter o carrão, tudo é uma busca, interminável, pelo Pai. Aquele que se perdeu.
A Viúva espera, muitas vezes com o marido vivo, que as promessas dos desenhos de Walt Disney finalmente se cumpram. Se ela fizer tudo certo, o Príncipe virá resgatá-la do calabouço da vida diária. Ela pode mudar tudo, fazer musculação, colocar silicone em todas as curvas, caprichar no perfil das redes sociais e dos aplicativos de encontros, sempre esperando pelo amor que vai preencher todas as lacunas e redimir todas as caixas de lenços e de chocolates consumidos na infinita espera. A Viúva espera, em sua dor, pelo marido que vai voltar do Silêncio.
O Arquétipo do Grande Nó é o que traz as pessoas para os divãs ou mesas de cirurgia estética. A Física Quântica Pop jura que criamos a própria realidade e basta mentalizar, acreditar e agradecer que tudo vai se manifestar em nossa vida: um carrão, um grande amor, um prêmio de loteria. O Nó está lá, como que rindo das tentativas de ignorá-lo. Amanhã começamos o regime, começaremos a fazer exercícios regulares, meus sonhos vão se realizar, vou dar a grande tacada, a sorte vai mudar. Dilma sonha com a derrota do Impeachment, Lula quer voltar a ser presidente, todos os problemas serão superados.
O problema do Nó é que, se ignorado, ele fica cada vez maior. Se tentamos desatá-lo na marra, ele fica cada vez mais apertado. Aqui entre Nós (sem trocadilho), não adianta ignorá-lo nem tentar desatá-lo à força.
Quando a questão é o Grande Nó, saiba que o Nó abre sempre um caminho. Este caminho, se trilhado, é o da compreensão. Compreender a natureza da própria limitação é o começo. Desatar o nó demanda atenção, criatividade e muita, muita aceitação. Esse é o longo trabalho de uma análise e de uma vida. É desatar um nó de cada vez.

domingo, 3 de abril de 2016

Os Dois Lados da Moeda

Havia um tempo em que tudo o que era alternativo trazia o adjetivo de “Holístico”. A Cura Holística buscaria o Todo, a Totalidade, em detrimento à nossa visão parcial e científica, que mutila a verdade em míriades de pequenos pedacinhos que nunca se juntam. Holistas e Reducionistas se enfrentam desde que o mundo é mundo, e eu tenho a impressão que toda briga ideológica pode ser resumida em partidários do Hemisfério Cerebral Direito contra os amigos do Esquerdo. Tenho a impressão que a disposição dos parlamentares nos debates napoleônicos, após a Revolução Francesa, acabaram gerando um equívoco neurocientífico, alguns séculos depois. Os Conservadores, identificados com a Direita, estavam do lado errado. O Hemisfério Esquerdo é mais conservador, serial, ordenador e até um tanto obsessivo com a ordem, pois a mesma é a condição para o Controle. O Hemisfério Direito é mais revolucionário, intuitivo e vive desafiando a velha ordem do outro lado com novas intuições e insights. Podemos concluir que, no Cérebro, a Esquerda fica do lado direito e a Direita fica do lado esquerdo. Parece mais confuso do que é.
Os “Holísticos” hoje viraram os “Quânticos” e compartilham visões místicas e não locais do mundo. Deixo transparecer alguma ironia com eles, e não devia, porque procuro uma prática clínica sempre mais para o lado da totalidade do que da redução, e muito mais para a não localidade do que para o mundo newtoniano da causa e efeito lineares.
Normalmente, o preço de se querer usar mais o lado direito é saber muito bem o que fazer com o esquerdo. Para a liberdade, a intuição e os grandes holismos, é bom saber muito bem do que se está falando. E ter muito, muito rigor para perceber quando se está errado.
As corporações são particularmente obcecadas pela formação de líderes. Também teremos os líderes mais identificados com cada Hemisfério Cerebral. Existem os líderes seriais e os digitais. Os primeiros são mais obsessivos e perfeccionistas, sempre preocupados com os detalhes e os resultados. Os segundos são mais relacionais, cuidam da motivação e protegem o seu time, às vezes com o próprio emprego. Alguns líderes puxam o saco dos chefes e descem o cacete na sua equipe. Outros são amados e fofos com a equipe e sempre tem uma boa análise para justificar números ruins. Como os números comandam o mundo, o líder deve prestar muita atenção neles. Serial ou Digital, Intuitivo ou Técnico, Severo ou Paizão, se o número não aparacer, vai todo mundo para a rua.
Mais uma vez eu gosto mais de líderes “quânticos” do que dos “newtonianos”. E mais uma vez reconheço que dar mais atenção aos resultados pode dar mais resultado do que cuidar só do “Processo”.
Um bom líder, seja ele um gerente de corporação, um professor de piano ou um terapeuta, precisa sempre do trabalho simultâneo dos dois lados do Cérebro. Ele precisa saber dos passos do processo e do caminho que vai ter que percorrer para ter os resultados. Mas, igualmente, deve ter um olhar para o resultado e como fazer para chegar nele. Felipão dizia, antes dos 7 a 1 da Copa, que o cara que não sabe porque perde também não sabe porque ganha. No caso, ganhar ou perder tem dois lados para compor e considerar. Como muito do que já escrevi nesse espaço, é mais fácil de falar do que fazer.