quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Psiquiatria Compreensiva 2 - Os Níveis de Compreensão

Uma das fantasias que as pessoas tem a respeito de suas doenças é que podem chegar ao médico e pedir que ele simplesmente faça um conserto no que está quebrado. A culpa com certeza não é delas, desde Descartes que o corpo é visto como uma máquina separada de sua alma, portanto, quebrou, é só levar para a oficina, digo, o hospital. Convivemos com pacientes que cruzam os braços esperando que o medicamento faça efeito e a doença vá embora. É grande a decepção quando percebem que adoecer é uma jornada de ida cuja volta é longa e sinuosa e, pior, voltar não é uma ciência exata. Tristemente curioso é quando essa fantasia se dá com crianças e adolescentes, após anos de mal funcionamento e os pais olham para o médico com aquela cara singela de "dá para consertar esse sujeito", geralmente, claro, colocando-se fora do problema e da solução. Virem-se, por favor. Sempre que me vejo diante dessa atitude de pacientes e familiares eu me lembro (e às vezes, falo) de multidimensionalidade e dos diferentes níveis de abordagem de um problema. Vamos dar um exemplo bem concreto: imaginem um cidadão que estava lá jogando a sua pelada de fim de semana, achando-se um Neymar mas com o corpo mais parecido com o Ronaldo Fenômeno. Jogada de linha de fundo, o gordo gira encima de sua abundante carroceria e os tendões do tornozelo não resistem à sobrecarga e se rompem. Pronto Socorro, gesso e cara feia da patroa, já cansada das presepadas do marido. Parece uma coisa muito simples, não é? Lesão, Raio X, Exame Físico, Diagnóstico e Tratamento. A máquina quabrou, vamos consertá-la, todo mundo feliz no final, menos a esposa que vai ter que levá-lo ao trabalho. Esse é o nível 1 de atenção e resolução. Em todas as esferas de resolução de problemas, as pessoas procuram, esperam e se satisfazem com o nível 1 de atenção/resolução. Alguém poderia imaginar: esse atleta de fim de semana pode jogar futebol? Como ele deveria se preparar e cuidar para não ser mais um na fila do Pronto Socorro? O que ele quer provar para si mesmo quando não percebe o perigo? Ele está prevendo que seu chefe já está cheio de ter um funcionário descuidado e que vai pensar em demití-lo assim que ver o gesso? Ele tem alguma idéia do que a vida está tentando lhe dizer com mais esse contratempo? Não, caros e possíveis leitores. Ele acha que quebrou, consertou, colocou pino e vamos para outra. Nos próximos capítulos, vamos falar sobre os outros níveis de atenção. Uma dica: já estão esboçados nas perguntas acima.

Nenhum comentário:

Postar um comentário