segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Psiquiatria Compreensiva

Para o senso comum, compreensivo é alguém tolerante, capaz de ouvir o outro e perdoar deslizes menores. Um psiquiatra compreensivo deve ser aquele que perdoa a terceira falta seguida, os atrasos constantes ou a recusa de aplicar o que é combinado na consulta? Não. A compreensibilidade é um termo antigo, posto na Psiquiatria por Karl Jaspers, grande filósofo e autor de descrições e compreensões que ainda passeiam por tudo o que se faz em Psiquiatria, quase um século depois de levadas aos livros. Entender é uma coisa, explicar é outra, compreender uma terceira coisa. Posso dizer para a paciente que se queixa da sensação que algo está errado dentro do seu corpo e que já realizou uma dezena de exames, todos normais, que isso pode ser explicado por uma disfunção de alguns neurotransmissores em seu Cérebro Emocional. Posso entender que esses sintomas foram piorados pelos excessos de trabalho e de autocobrança, que a sua mãe lhe ensinou que era o certo e agora a está levando a perigosa exaustão. Posso, finalmente, compreender que o seu processo é a somatória de vários fatores concorrentes, já que ela é um ser multidimensional. A Psiquiatria vem deixando a Compreensibilidade Jasperiana empoeirando nos livros antigos de Psiquiatria Fenomenológica. Temos há décadas uma somatória de critérios baseados na somatória de sintomas. Aritmética simples, se você tem tantos sintomas de Depressão, por tanto tempo, então você vai receber tal medicamento em tal dose. Os psiquiatras continuam tentando explicar, entender e mesmo compreender, mas isso só dentro da sala de atendimento e só quem ainda gosta de praticar o velho raciocínio clínico. No mais, basta uma pequena lista de sintomas que, confirmados, justificam a conduta. Na próxima postagem vou abordar os quatro níveis de compreensão, e como eles podem nos ajudar em todos os diagnósticos, até nos psiquiátricos. Até lá.

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