domingo, 19 de janeiro de 2014

A Espada e a Expectativa

Lembro de uma pequena história de samurai que me ocorre para escrever esse post: “Havia um valente samurai que viajou de muito longe para consultar um velho Mestre. Estava com o espírito carregado por uma dúvida e, depois da jornada, finalmente perguntou ao sábio como saber a diferença e encontrar o Inferno ou o Céu na vida de uma pessoa. O mestre, de maneira estranha, não recebeu bem o Samurai. Pareceu mesmo ignorar a sua pergunta. O guerreiro começou a se sentir incomodado com essa atitude. Repetiu a pergunta, com insistência incomum. O velhinho respondeu com um desaforo, que não iria conversar com um desclassificado. O Samurai puxou a sua espada, pronto a matar o velho desaforado. O sábio olhou em seus olhos e falou: “Esse é o Inferno”. O samurai então, entendeu a mensagem, guardou a espada e se curvou diante do mestre. “Esse é o Paraíso”, completou o homem.
A história não é muito animadora. Podemos concluir, através dela, que estamos no Inferno a maior parte do tempo. Quando o guerreiro se deixa ofender por um desconhecido, está no reino do Ego. O sangue sobe à cabeça e ele está perto de lavar a sua honra também em sangue, quando, envergonhado, entende a lição. Mais surpreendente é o final, quando a atitude de respeito é comparada ao Céu.
Lembrei dessa historieta antes de falar sobre um tema recorrente nesse blog, que é a Obsessão Amorosa, doença que acomete ambos os sexos mas, predominantemente, as mulheres, que não usam armadura nem falam japonês, mas podem se comportar como o samurai. A língua pode ser afiada como uma espada e decepar esperanças. Mas o essencial de nosso inferno pós moderno é sempre, sempre o mesmo: “Eu, eu, eu, eu e mais eu”. Para completar, um pouco mais de Eu. As moças chegam nas relações com uma lista de características que se esperam de seu candidato a Príncipe: beleza, pegada, situação financeira e uma capacidade sobre humana de atender a todas as suas carências. Quando nosso candidato falha em alguns desses quesitos, geralmente em todos, começam as críticas, as cobranças e os desencontros que terminam em uma caixa de chocolates e vários lenços de papel molhados. Como o velho mestre conseguiria dar conta de tanta expectativa e sofrimento?
A atitude que o mestre aponta como o paraíso é do Respeito. Respeito pelo Outro, mas, acima de tudo, respeito pelo aprendizado. Em vez de esticar e puxar o Outro, ou a relação, para cima e para baixo até ela se encaixar no caixão das expectativas, adotar uma atitude de respeito por tudo o que não conseguimos controlar. Lição número um para os samurais do amor: começar pelo respeito ao Outro. Ou à Outra.
A Guerra dos Sexos não existe mais . O que existe são espadas cortando o ar.

Um comentário:

  1. Mestre,
    Vc começou o ano novo com força total e escrevendo muito !
    Já vivi isso e é a pura verdade; Respeito acima de tudo.
    Pelos valores, pela experiência vivida, pelas diferenças.
    Eu acrescentaria a "confiança" nessa caminhada para o Paraíso.
    Forte abraço, Feliz 2014.

    Edison

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