domingo, 20 de julho de 2014

Amor de Proveta

Uma cliente, com seu humor deliciosamente ácido citou, há alguns anos, um estudo europeu que mostrava uma alta incidência de crianças que não tinham compatibilidade genética com seus pais, ou, no caso, com os homens que as criavam. Ela observou, entre boas risadas, que aquela era a prova científica de que as mulheres escolhiam um homem para engravidar e outro para criar o seu filho. O pior é que a ironia procede. Escolher o doador do material genético e o homem que cuida dos filhotes podem ser processos bem diferentes do ponto de vista evolutivo.
As moças não sabem, mas se queixam, nesses tempos de amor virtual e encontros no Tinder, que procuram um tipo e encontram o outro, e o que é pior, demoram muito para saber a diferença entre um e outro tipo. Saem nas baladas e encontram caras prontos a chamá-las de maravilhosas e ressaltar todas as suas qualidades, existentes e inexistentes, para conseguir a aproximação e o sucesso amoroso de uma noite de amor, que, na verdade, é uma noite de sexo. O romance termina rápido, assim como a paixão de pipoca de micro ondas, que termina após três minutos de barulho. E um gosto de isopor no céu da boca, no dia seguinte.
As espécies onde os filhotes precisam decisivamente da presença do macho para a sua sobrevivência contam com as maiores taxas de Ocitocina, um Neuro hormônio cada vez mais estudado pela Neurociência. Um ovo de pinguim, por exemplo, pode ser chocado durante semanas por um papai congelado e faminto, mas que com suas altas taxas de Ocitocina fica grudado em seu futuro bebê, mesmo que isso lhe custe a vida. Não sei como dizer isso, mas aparentemente o valor evolutivo da fidelidade masculina se restringe a esse tipo de filhote altamente dependente da presença do papi. Em primatas, nossos primos, é mais comum ver as fêmeas defendendo sua prole com a própria vida, enquanto os machos ficam catando piolhos. Os níveis de Testosterona e Ocitocina não devem ser, necessariamente, proporcionais. A minha cliente e o estudo tem toda razão: as mulheres tendem a procriar com machos ricos em Testosterona, mas vão querer criar os filhotes com os ricos em Ocitocina. Por isso que os “bad boys” costumam fazer mais sucesso do que os “bonzinhos”. Na noite e na cama. Os que sabem ser galantes, então, ganham de goleada dos caras “legais”.
Se eu ganhar da Megasena, pretendo me dedicar a vários projetos. Um deles é desenvolver uma testagem imediata dos níveis de Ocitocina para avaliar candidatos na balada. O cara chegou na menina, disse que ela é maravilhosa, dança bem, coloca o seu desejo de forma encantadora e vai ganhando a confiança da presa, digo, da pretendente, ela já está perto de sair com ele para um “lugar mais tranquilo”. Antes de dizer sim, entre um beijo ardente e outro, imagine que ela coloca um cotonete na boca do nosso candidato e, para a sua surpresa, coloca numa máquina para medida da sua Ocitocina. Já pensou? Detectar in loco o chavequeiro e diferenciá-lo do cara que realmente liga no dia seguinte e não tem dificuldade de ficar dentro de uma relação? Para ganhar dos dois lados, poderíamos fazer também um spray de Ocitocina, para o candidato se aplicar antes do “Bafômetro do Amor”.
Não está longe o dia, senhoras e senhores, que o amor vai ter um diagnóstico laboratorial.


Um comentário:

  1. Caracas Mestre, meu nível dessa tal de Ocitocina deve ser altíssimo !
    A descrição combina muito comigo,,, ;-(

    Edison

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