domingo, 1 de dezembro de 2013

O Amor nos Tempos dos Aplicativos

Uma novidade na indústria da pegação é um aplicativo que permite localizar e interagir com pessoas selecionadas por perfil e interesses, o Tinder, que vai encher ainda mais os consultórios de terapeutas e consumir toneladas de lenços de papel. Ligando o tal radar, as pessoas tem acessos a imagens e perfis, trocam mensagens e se encontram. Os caras querem arrumar uma transa com alguém perto, sem esforço. As mulheres podem ter a mesma intenção, teoricamente, mas não é isso que ocorre. Normalmente ficam decepcionadas de um jeito ou de outro, ficando ou não, transando ou não. Hoje somos todos objetos de consumo, o que inclui o consumo sexual. O excesso de interesse no que é exterior faz as pessoas, de ambos os sexos, perderem a compreensão do que é fazer contato, afetiva e fisicamente. A sexualidade e a sexualização parecem uma manifestação de desespero e de isolamento, uma busca de contato que termina em não-contato.
As meninas arrumaram um novo aplicativo para a sua pouco disfarçada frustração: um tal chamado Lulu, onde avaliam os caras e expõe os seus defeitos. Uma menina suicidou-se no Piauí quando seus vídeos íntimos caíram na Web. Já estou esperando pelas consultas de urgência com esse aplicativo, tentativas suicidas incluídas. Sobretudo, fico imaginando o que vai acontecer depois do revide. As meninas vão colocar que o cara é galinha, não liga no dia seguinte e se acha melhor na cama do que realmente é. Os caras vão revidar dizendo que a menina, quando tira a roupa, tem gorduras localizadas, peitos caídos ou liga dezoito vezes por dia depois do primeiro encontro. Não é difícil de imaginar quem vai sofrer mais com essa prática idiota, não é mesmo? Sobretudo, quando se expõe a intimidade de alguém ao escárnio e à humilhação públicas, além de mágoas profundas, a resultante é que as pessoas evitem cada vez mais se envolver em qualquer tipo de relacionamento. O final desse jogo é a solidão, para ambos os sexos. O que um homem vai pensar, se ficar nú e receber em uma rede social notas e comentários sobre tamanho e perfomance de seu instrumento? E a menina? O que vai achar de ler comentários sobre o que faz ou deixa de fazer entre quatro paredes? O que vai pensar o seu avô quando ler sobre seu beijo e outras coisinhas que serão comentadas abertamente? E pior do que tudo, se alguém realmente quiser enxovalhar o cara que lhe deu um fora, ou a menina que ficou com o seu melhor amigo? Basta escrever todo tipo de barbaridades, pois as pessoas tem uma estranha tendência em acreditar na palavra escrita.
Diante de toda essa barbárie, esse lixo virtual pode ter um estranho efeito colateral: pode devolver as pessoas às relações profundas. Quanto maior a promiscuidade, maior a chance do linchamento nos aplicativos e nos celulares. A chance de tirar a roupa para alguém que não vai usar a sua nudez, corporal e, sobretudo, afetiva como uma arma de vingança ou agressão vai ser somente quem realmente ama. Já pensou? Esses aplicativos podem trazer de volta à moda o sexo feito com amor, aquele que perdoa um pinto pequeno ou uma celulite na barriga. Pode ser o começo do fim da guerra dos sexos. Ou o início da compreensão do valor da intimidade, pessoal e a dois.

2 comentários:

  1. Mestre, sensacional sua abordagem, é isso mesmo !
    Não tem que avaliar ninguém virtualmente, vc tem toda razão, vamos voltar a conversar nos botecos, nas faculdades e mais amor, chega de vingança.
    Agora "pinto pequeno" foi legal demais !!!
    Kkkkkk.

    Edison

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  2. O software certo é Tinder !

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