domingo, 3 de agosto de 2014

Carpe Diem

Há uma série de pequenas palestras no Youtube e outros canais da web, chamadas TED Talks. O subtítulo é “Ideias que Vale a Pena Espalhar” (tradução livre). São inserções curtas, de até 20 minutos, sobre os temas mais diversos. Num post anterior eu falei sobre uma palestra que abordou a Não Violência. Hoje assisti um novo TED, de um garoto de 17 anos chamado Sam Berns. Há um contraste entre a sua imagem, pré humana, a sua voz de criança e a sua aparência de idoso com alguma doença terminal e a força de sua fala. Sam tem Progeria, uma doença rara onde o processo de envelhecimento celular é acelerado pela síntese de uma proteína defeituosa que afeta a membrana das células. Sam tem a aparência de um homem de mais de cem anos, pesa 23 quilos e perde o fôlego em frases mais longas. Ele imediatamente nos transmite a sensação de vergonha por nossas preocupações mesquinhas e medo da vida. Sam sabe que não vai atingir idade para materializar muitos de seus sonhos. A sua filosofia para lidar com tudo isso inclui focar o que pode fazer, não o que nunca vai poder; cercar-se sempre de pessoas que ama e olhar para frente, não gastando energia com preocupações sobre o seu futuro e, ele não menciona mas é óbvio, sua morte prematura.
Isso bem que pode terminar como um vídeo viral na Internet, daqueles que recebemos de tias e de pessoas bem intencionadas e isso seria uma verdadeira pena. A fala de Sam é muito mais profunda e delicada que um testemunho de Revista Seleções ou entrevistas em programas de variedades; Sam dá um testemunho de vida carregada de Atenção Plena, ou Mindfullness. O exercício do Carpe Diem (algo como “Aproveite o Dia, ele pode ser o seu último) para ele é um fato e um exercício diário. Olhar para frente e ter planos para o futuro é uma forma de contornar a sensação de que o futuro é um beco sem saída. Mas Sam dribla o maior risco de sua apresentação, que era de cair num otimismo bobalhóide respaldado por sua condição terrível. Ele escapa bem dessa cilada. Fala abertamente sobre os dias ruins, as crises de angústia e as ideias sombrias que o acometem, como acometem a todos nós. Essa, para mim, é a parte mais genial de sua fala: Sam sabe que não adianta ignorar nem fugir desses pensamentos. Pensamentos que com certeza devem incluir desistir de tudo e ficar em casa, esperando pela morte. Sam descreve o processo de lidar com esses pensamentos em 3 fases: Reconhecer o sentimento ruim, acolher o pensamento, deixá-lo por lá até descobrir um jeito de lidar com aquilo e superá-lo. Uma verdadeira aula de manobras cognitivas para resolver crises de angústia e pensamentos reverberantes sobre o futuro.
Pesquisas em Neurociência mostram que se macacos criados em isolamento passam a comer compulsivamente e se automutilarem. Quando colocados com outros de sua espécie, podem lutar até a morte e não conseguem fazer parte do grupo. Qualquer semelhança com humanos não é mera coincidência.
Sam aprendeu a manter a sua humanidade sendo parte de seu grupo. Ele pode causar tanto a piedade quanto o horror nos que o cercam e não conhecem. Mas a sua luta mais do que corajosa é para se manter dentro do âmbito de sua condição humana. Por isso, a sua última recomendação é “Nunca perca uma festa, se puder ir”. Essa me acertou na boca do Estômago.

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