segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Oração Intencional

Nos dias de hoje, ir ao médico é sempre sair com uma prescrição de exercícios físicos. São poucas as especialidades que não se beneficiam direta e profundamente da prática de exercícios, e já presenciei mudanças dramáticas de quadro clínico quando alguém consegue incluir na sua rotina esse hábito. Reconheço que não é fácil. Eu faço exercícios pelo menos três vezes por semana, geralmente na bicicleta ergométrica. Como técnica motivacional coloco um filme no Netflix e só posso retomá-lo na próxima pedalada. Vou vendo o filme ou a série de meia em meia hora de exercícios, até acabar. O ruim é quando escolho um filme cabeça demais, desses que os psiquiatras adoram. Filme lento não ajuda a pedalar.
O último filme que eu coloquei para animar as pedaladas foi “Deus Não Está Morto”, um filme novo dessa safra de filmes Gospel que hora ou outra atravessam o meu caminho. Um esclarecimento para o leitor ou visitante eventual dessa página: quando você lê que eu sou um psicoterapeuta de origem junguiana, isto significa que posso falar em Deus sem ficar corado. Jung trouxe para o seu século a necessidade de um entendimento profundo do arquétipo Cristão e uma das tarefas de sua terapia é a criação de uma consciência mais ampla, uma consciência Crística. Isso vale aos junguianos o escárnio e a desconsideração de muitos de seus pares, de outras linhas. Quando eu critico um filme gospel, portanto, não é de uma perspectiva farisaica de cientista ou pseudocientista. Estou falando de dentro, não de fora do tema.
Voltando ao filme, ele é uma singela fábula sobre um calouro que vai cursar um curso introdutório à Filosofia como um dos assuntos de sua grade, com vistas à faculdade de Direito. O professor do tal curso exige que os alunos escrevam que “Deus está morto” numa folha de papel, como pré requisito para o seu curso, que vai falar sobre filósofos que construíram a sua obra fora da ideia de um Criador. O calouro se recusa a entregar a declaração, e isso vai gerar a ira do professor malvado, que vai passar a perseguir o rapaz. Ele perde a namorada (que não aceita o embate) e passa a estudar longamente o tema para enfrentar o falso mestre num “julgamento de Deus”.
O filme se torna muito frágil na figura do tal professor, cujos argumentos desmoronam facilmente diante do estudo consistente do bravo advogado de Deus. Um argumento fácil de se colocar de ambos os lados, do Ateu ou do Teísta: o que chamamos de Deus está fora do campo do que chamamos de Existência, está fora do que a nossa consciência humana consegue abarcar empíricamente. Se alguém quiser fazer um estudo provando a sua Inexistência, será facilmente bem sucedido, assim como se alguém fizer um estudo sobre curas feitas pela oração, também vai ter dados para provar a sua hipótese.
O incrível é que dediquei umas três pedaladas para ver o filme inteiro, que acaba com vários personagens convertidos e aceitando Jesus. Gosto da cena em que uma jornalista descrente vai tentar “desmascarar” a banda Gospel em entrevista agressiva e termina a mesma rezando com os rapazes que vão fazer depois um rock chatérrimo com músicas enlevadas para fechar o filme. A oração que eles fazem com ela é bem legal e vale as pataquadas que toleramos no caminho. O vocalista pede a Graça sobre ela, que está doente, para que tenha “a fresh new start”, um recomeço fresco, sem as dores e as mágoas que trouxe de sua vida “anterior”. Gosto desta cena porque toca na força da oração intencional como veículo de cura. É bonita a sensação da intenção amorosa que compartilham e foge do cristianismo chapa branca de outras cenas. Isso, a força da oração intencional, bem que seria um bom tema para outro post, mesmo correndo o risco de apedrejamento científico.

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