segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Pizza e Jornada Interior

Ontem estávamos num jantar de amigos. Um sobrinho da aniversariante está fazendo Faculdade de Psicologia e veio conversar sobre o assunto, meio ruim para degustar entre pedaços de pizza e cerveja em bom ponto. Ele pensa em se aprofundar em Terapia Comportamental e Cognitiva e terminar seus estudos na Itália. Segundo ele, Freud já era. Fiquei mordendo os lábios e recarregando a minha cerveja uruguaia. Se a minha língua algo solta se soltasse, diria para ele fazer um curso de coaching e abandonar a faculdade, pois é um trabalho muito baseado na TCC (Terapia Comportamental e Cognitiva). Igualmente, diria que a psicologia na Itália não é lá grande coisa e talvez no Brasil ele tivesse uma formação melhor. Finalmente, diria que Freud já era apenas na opinião de alguns professores que, ou não leram, ou não entenderam o que leram, ou, pior, dão aula de Psicologia mas não clinicam. Felizmente eu engoli esses pensamentos junto com uma fatia de pizza de mussarela. Ele logo levantou e foi postar as fotos da comida em alguma Rede Social.
Já postei anteriormente nesse blog que a psique tem várias camadas, como as camadas de uma cebola. Por alguma razão estranha, as camadas mais profundas foram descobertas e exploradas antes das camadas mais superficiais. A Psicologia do Inconsciente foi explorada e descrita pelos pioneiros. Freud descreveu o Inconsciente Pessoal, Jung o Inconsciente Coletivo e muito latim já se gastou para se falar nesses assuntos. A Psicologia Comportamental e Cognitiva não se baseia no que está gravado no Inconsciente. Procura operar no Sistema de Crenças e nos Esquemas Mentais que geram doenças. É um bom trabalho que beneficia muita gente. Não é excludente com a exploração do Inconsciente, embora muita gente pense assim.
O que Freud descobriu e que hoje em dia anda muito fora de moda é que o nosso mundo interno é gravado com várias impressões profundas, antigas, inconscientes que rodam dentro de nossa vida como um vírus dentro de um computador, atrapalhando os programas e criando pensamentos e ações que nem sempre são as que a gente mais gostaria.
Ando meio que viciado nos vídeos dos TED Talks (disponíveis no TED.com). Hoje assisti a um vídeo de seis minutos de uma moça bonita e com olhar triste que contou a sua trajetória dentro da Depressão, com quadros depressivos que vinham de sua adolescência e de sua infância carregada de abusos de um pai. Ela procurou tratamento e fez uma TCC para tentar dar conta de seus pensamentos e crenças destrutivas. O quadro só fez piorar, e piorou muito. Quando ela procurou outros tipos de ajuda e de cura, começou sua jornada interior. Na exploração do que poderíamos chamar de seu Inconsciente, descobriu que o seu pior problema não eram os abusos físicos e sexuais que sofreu de seu pai, mas a absoluta falta de qualquer tipo de escuta, dela e de quem a cercava, para seu próprio sofrimento e as coisas que gostaria de expressar. A sua jornada passou pelo reconhecimento dessa dor e elaboração de novas formas de ser e de estar no mundo, não só como uma mulher deprimida e sedenta de aprovação, mas como alguém que visita seu Mundo Interno para poder transformar o Externo.
Usar medicamentos ou mudar as suas formas de pensar ajuda muita gente. Não ajudou essa moça porque as pessoas continuavam dizendo para ela como deveria viver ou pensar, em vez de tentar entender onde e como se manifestava a sua Ferida. Ela fez a sua Jornada Interior para colher a verdade que estava lá. Freud foi um pioneiro em achar este caminho. Isso o garoto não vai aprender na faculdade. Nem muito menos nas Redes Sociais.

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