domingo, 18 de janeiro de 2015

Grande Mãe

O filme “Guerra ao Terror” ganhou o Oscar num ano insosso, com uma safra de filmes limitada. Eu gosto do filme, mas tenho certeza que a sua premiação foi uma espécie de canto de cisne dos anos sombrios de George W. Bush, um sósia de Ronald Golias que foi presidente do país mais poderoso do mundo por oito longos anos. Para não dar o Oscar para “Avatar”, que segundo os críticos reaças da Academia estava repleto de sentimentos antiamericanos, preferiram premiar a luta solitária de um soldado que arrisca a própria vida todo dia para desmontar artefatos na Guerra do Iraque. Tem até um psiquiatra bonzinho que estimula os soldados a tentar tirar o que há de melhor na experiência de invadir um país e ver explosões e pedaços de carne humana voando pelos ares. O tal psiquiatra sai numa patrulha e troca uma ideia com os nativos, que lhe deixam uma bomba de lembrança... E lá se vai o psiquiatra (e, provavelmente, a Psiquiatria otimista) pelos ares. Não se deve dar mole para esses seres medievais, é o que deixa implícito o filme.
“Avatar” é uma fábula futurista adocicada, uma visão romântica da luta para preservar a consciência de um povo que não perdeu o contato com a natureza e tem uma Árvore Sagrada” para defender dos interesses extrativistas dos invasores americanos. O soldado paraplégico ganha pernas de seu Avatar para se infiltrar nos povos da floresta, com o intuito de facilitar a invasão, mas acaba percebendo a natureza sagrada da Árvore e da Grande Deusa da floresta que cria o campo energético onde tudo está interconectado. E tudo pode ser aniquilado se esse santuário ecológico for destruído. O soldado troca de lado e passa a combater os invasores americanos, o que retirou o Oscar de melhor filme de “Avatar” que, aqui entre nós, é menos filme que “Guerra ao Terror”.
Há alguns meses eu citei, nesse blog, um documentário mostrado na TV a Cabo chamado “Medicina Milenar”. Um jornalista inglês percorre o mundo conhecendo tradições de cura de diversos povos. Um dos programas é sobre a Medicina Amazônica, na borda entre os curandeiros peruanos e os índios brasileiros, na fronteira amazônica entre os dois países. Uma moça americana com quadro pulmonar crônico e ataques intratáveis de asma tomou uma espécie de xarope de cupim e sentiu melhora imediata. No final de toda a experiência, o jornalista foi convidado a tomar o extrato de Ayhuasca, bebida retirada de uma espécie de bambú amazônico que serve para os rituais do Santo Daime. O homem fica completamente chapado e descreve, durante o uso da substância, que aquilo era uma espécie de tecnologia da floresta para se proteger da invasão dos humanos. Era como um contato com a Alma da Floresta, que também demonstrava a sua presença sagrada. Não são poucos os relatos de pessoas que se libertaram completamente do uso de outras substâncias, como o Álcool e a Cocaína, a partir da experiência com essas substâncias que estão na origem das mais antigas tradições espirituais da raça humana, que é o Xamanismo.
Trabalhar com a doença e o adoecer humano é, muitas vezes, a oportunidade de se recuperar o contato com essa experiência do Sagrado, que é motivo de piada em nosso Ocidente hipercapitalista e científico, ou pseudocientífico. Não são poucas as pessoas que mudam radicalmente a sua relação com o próprio tempo e com a própria vida após atravessar a dura jornada de um tratamento para o Câncer, por exemplo.
Vivemos num mundo que as pessoas não tem muito contato com seu Mundo Interno e sua relação com a Mãe Terra e a Mãe Natureza. Para os usuários do Daime, ela aparece como uma Grande Mãe, a Mãe Ayhuasca que adverte os dependentes sobre a besteira que está fazendo com sua vida. A vida é sagrada em si, tem um valor intrínseco e não depende de nada que a justifique. Como tal, deve ser preservada e desenvolvida, não jogada no lixo. Tenho vontade de tomar o chá horrível para acionar essa sabedoria da Grande Mãe para esfriar o planeta, dissipar os poluentes e trazer de volta o equilíbrio para o clima e a Água. Ou poderia acionar um Avatar para penetrar na Alma da Floresta, para que a Terra chame pela chuva e a chuva não destrua tudo em seu caminho. Precisamos entra em contato com a Mãe Gaia. Quem tiver o contato, por favor me passe.

3 comentários:

  1. A vida é sagrada em si. Tem um valor intrínseco "e não depende de nada que a justifique." É bom ler isso! Acalma a alma. Aquieta o coração. Traz paz. Obrigada.

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  2. Esqueci de assinar... Edison

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