domingo, 12 de abril de 2015

Sorriso Interno

Leonardo da Vinci deixou um gigantesco legado como pintor, escultor, inventor, matemático e tantas outras atividades e contribuições; ele era um polímata, um homem que dominava várias áreas de conhecimento humano, com igual curiosidade e genialidade. O seu quadro da Gioconda, ou a Monalisa, ainda nos assombra com o olhar neutro e suavemente risonho e, sobretudo, o sorriso discretíssimo insinuado em seus lábios que cria o enigma se ela está imaginando um sorriso ou tendo as manifestações iniciais do Mal de Parkinson. Eu prefiro acreditar que o gênio renascentista captou em sua pintura algo eterno, arquetípico e o colocou no retrato de uma jovem fidalga de seu tempo.
Amy Cuddy fez uma aula brilhante em um TED de 2012 sobre a nossa linguagem corporal e como ela determina muito do que projetamos e acreditamos que somos. Somos criados para temer a autossuficiência, a inflação de nossa autoestima. Temos medo da arrogância, mas não da humildade ilícita, da autodiminuição consciente, da modéstia falsamente encenada. Amy, psicóloga, especialista em linguagem corporal, sugere que fingir estar seguro, ou cheio de si, confiante, pode realmente ajudar uma pessoa a se sentir mais segura, ou poderosa. Isso pode parecer uma fábrica de Mussolinis, mas não é essa a ideia. A ideia é criar uma autoimagem mais positiva e relaxada começando com a sua postura. E que isso não vai criar uma sociedade de metidos, mas pode reduzir a miséria autoimposta.
A entrevista psiquiátrica de hoje tem tantos checklists para se preencher que esquecemos do exame dos antigos, que descreviam exaustivamente a postura, o olhar, a música ou falta dela na fala do paciente, o jeito como se vestiam e combinavam as cores, o jeito como procuram ou fogem do olhar do interlocutor. Era uma tentativa honesta de entrar dentro dos sapatos do paciente para ver o mundo como ele vê esse mundo. Mesmo que discordemos dessa visão. A imagem corporal, a expressão do olhar, a forma de falar, tudo isso era meticulosamente descrito. Estudos como Amy descreve em sua aula podem ajudar a saber quase tudo do que se passa dentro da pessoa apenas pela imagem que ela projeta de si.
Existem técnicas de meditação taoístas em que o meditador visualiza as diferentes partes de seu corpo com um sorriso de Monalisa. Eu tentei, já que estou sempre fuçando por coisas que possam ajudar as pessoas e meu paciente mais difícil, um tal de Marco Spinelli. É bem agradável meditar lançando nas diferentes partes de meu corpo e de meu dia esse sorriso. Uma sensação discreta de relaxamento e paz acompanha o sorriso interior. Imagine o leitor desse blog que pudéssemos distribuir vários sorrisos de Monalisa para as áreas doídas de nosso corpo no final do dia. Ou para os colegas de trabalho que não gostamos tanto assim. Ou as tarefas das quais gostaríamos de fugir o mais rápido possível. Imagino que haveria uma grande economia de Botox. Aliás, há estudos que a aplicação de Botox em áreas de tensão ou em rugas de expressão produzem melhora de humor e diminuição de sintomas ansiosos nas pessoas aplicadas. Isso confirma o trabalho de Amy: quando se muda a expressão facial, o Cérebro também muda.
Já posso imaginar uma Medicina Estética Psiquiátrica, onde trabalhar o corpo, a expressão facial e corporal e a tensão muscular seja tão importante quanto acertar o tipo de antidepressivo que vai aliviar um sofrimento.
Olhar para a vida com um sorriso de Gioconda pode melhorar nosso humor, reduzir a pressão arterial e melhorar a resposta imune. Se algum leitor desse blog quiser ajudar a coletar fundos para essa pesquisa, é só me avisar.

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