domingo, 24 de maio de 2015

A Mandala do Encontro e do Desencontro

Estava assistindo uma aula que tocava em alguns pontos que já foram abordados no decorrer desses anos de blog, no que tange a relacionamentos amorosos. Tinha algum receio que a aula escorregasse para alguma idealidade adocicada, e realmente escorregou, quando a simpática palestrante observou que as preliminares não são os estímulos sexuais nas zonas erógenas cinco minutos antes dos Finalmente, mas que as preliminares começavam no minuto seguinte ao orgasmo. Isso quer dizer provavelmente que o casal deve se acariciar e estimular o tempo todo e que isso cria o clima que vai desembocar no próximo encontro ou desencontro, sexual, afetivo, amoroso do casal. Ótimo. O cotidiano do casamento é tão anti tesão que é difícil imaginar um espaço de preliminares na discussão sobre a conta de luz ou as notas do filho. A vida sexual de um casal com filhos é uma guerra de guerrilhas e de se esgueirar em meio aos pedregulhos do caminho. E a pós modernidade colocou os casais em meio ao maior dos desafios, que é manter alguma tensão erótica em meio às infinitas verborragias amorosas, em uma doença mortal que são as infinitas DRs sobre quem fez o que para quem e não deveria ter feito, ou o que cada um deveria fazer para dar ou receber algum conforto na selva de compromissos e tarefas que virou o viver. Hoje cobra-se companheirismo, amizade, amor, solidariedade, cuidado, atenção e, ufa... Mistério, sedução e, segundo a moça da palestra, alguns dias de preliminares amorosas antes do casal conseguir quinze minutos de intimidade. Cansa só de pensar.
Nas prateleiras de autoajuda das livrarias tem um título que achei muito curioso: “Casamento Blindado”. Na capa tem um simpático casal, a moça da dupla deve ser provavelmente a esposa do casamento blindado e a autora do livro. Não tive coragem de folheá-lo e já adianto aos poucos leitores desse blog que daqui em diante estarão diante de críticas pouco embasadas, já que vou me deter no título. Não conheço nenhuma empresa de blindagem de casamentos, nem a aplicação de películas anti vandalismo extensiva a noivos ou namorados. Será que a blindagem é pela proteção de Jesus, ou de alguma técnica de tornar nosso casamentos perfeitos, impolutos, como o bumbum de algum anjo de Rafael? Porque eu já estou na estrada há bastante tempo e imagino que a única blindagem que um casamento pode ter é justamente a sua vulnerabilidade absoluta: é não ter blindagem nenhuma.
Os relacionamentos, como a vida, tem momentos de contração e expansão, de dias ensolarados e invernos rigorosos. Os casais que conseguem se manter são os que descartam os clichês românticos e sabem que amor é construção no meio do caos, sem blindagem, sem fórmulas que cabem em algumas páginas adocicadas ou em comédias românticas.
Um desafio imenso dos terapeutas de casal é achar um lugar em que o casal possa novamente se encontrar em uma Mandala amorosa, um canto onde possam despir as disputas e as mágoas intermináveis e encontrar um lugar de encontro e entrega, sem blindagem. Os casais mais bem sucedidos nessa busca reservam um canto da vida para a vida a dois e a exploração de seus corpos e, mais do que isso, de uma sensualidade profunda, nesses tempos de sexo fast food e que eroticidade significa algemas e cinquenta tons de cinza.
Os terapeutas, como os casais, tem que ser de circo para encontrar e promover esse lugar, onde as lembranças e as lambanças são deixadas de fora e um pode voltar a ter curiosidade sobre o outro. Um pode explorar o espaço amoroso sem trocar nenhuma palavra, onde as DRs são terminantemente proibidas.

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