domingo, 20 de março de 2016

Linchamento Virtual

Na metade final dos anos noventa, o homem mais poderoso do mundo, o presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, envolveu-se com uma menina de vinte e poucos anos que era estagiária na Casa Branca. O seu nome era Mônica Lewinsky, que teve a sua vida devastada pela exposição de sua intimidade em tempo real, fornecendo detalhes gráficos sobre onde como e quantas vezes fez favores sexuais ao seu chefe, dentro do coração do poder do Império Americano. Mônica pode ter mudado para pior a história da humanidade. A revelação de seu caso enfraqueceu e colocou nas cordas a gestão de Clinton e certamente colaborou para a eleição de George W. Bush, uma das figuras mais minúsculas a prestar juramento como presidente americano. Pode-se dizer que ela influenciou até o que acontece agora no Brasil, pois foi na presidência de George W. que foi inaugurado o estilo - “ Eu faço qualquer coisa que me der na telha e meus marqueteiros dão um jeito depois”. O desprezo pela opinião pública, a manipulação do medo e do ódio de pessoas culturalmente mais simplórias e a ordem de encher os bolsos, mesmo que o preço seja quebrar o país fez escola, a escola da putaria generalizada, que terminou com a quebra americana em 2008 e a crie mundial que Lula chamou de “marolinha”. Essa escola aparece nas revelações da Lava Jato. Um dos poucos políticos presos nos escândalos tupiniquins disse a frase síntese de nosso momento histórico: “O PT exagerou no roubo”. Essa frase enseja que, até para a roubalheira e a putaria há limites. Um mínimo de decoro, ou de proporção.
Quase vinte anos depois, a jovem estagiária que teve um caso com o chefe e mudou o rumo da história reaparece e dá finalmente a sua parte da narrativa. Mônica Lewinsky retorna uma mulher em seus quarenta anos, bem diferente da pós adolescente cheinha, de bochechas rosadas, que aparecia em modelitos duvidosos nas fotos da imprensa marrom. Uma mulher bonita e com as frases bem ensaiadas para colocar seu ponto de vista. Ela amadureceu bem e finalmente analisa, em uma aula que está no TED.com, a sua experiência como “Paciente Zero” da era de linchamento moral trazida pela internet. Uma menina de pouco mais de vinte anos recebia mensagens onde era chamada de “Vaca”, “Puta”, “Vagabunda” e todos os adjetivos do gênero, que não são difíceis de se imaginar. Durante um bom tempo tomava banho e usava o banheiro na presença de sua mãe, já que seu risco suicida era bastante considerável. Ela teve o suporte de uma família estruturada e amorosa e uma equipe de médicos e terapeutas que a ajudaram a reconstruir a vida longe dos holofotes da mídia carniceira. Muitos não tiveram a mesma sorte. Em sua aula ela lembra de um rapaz de uma universidade que foi filmado transando na cama com seu namorado e, após o vídeo postado em redes sociais pelo colega de quarto, atirou-se de uma ponte no rio gelado, pondo fim ao linchamento virtual que estava sofrendo.
Já coloquei aqui, inclusive neste post, minha posição com relação à atual crise política brasileira. Segundo um jornal Inglês, uma crise surrealista mesmo para padrões brasileiros. Mas não posso deixar de registrar a minha náusea diante da divulgação de conversas privadas de Lula e sua família. Em tempos de linchamento virtual, a exposição da intimidade das pessoas à infâmia e à execração pública é uma arma política e de propaganda no mínimo temerária, pelo seu peso e pelo precedente que se abre. Já escrevi isso antes e repito: em conversas particulares somos injustos, falamos besteiras que não repetiríamos em público, falamos mal de quem gostamos e fazemos fofoca pelo prazer da maledicência. Colocar uma conversa privada para o mundo ver é uma forma de tortura usada pela polícia secreta de países da Cortina de Ferro. Isso está errado e precisa parar.
Nelson Rodrigues disse: “Quem dera os homens de bem tivessem a ousadia dos canalhas”. Pois eu diria que a ousadia dos canalhas não orna nas mãos de homens de bem.

3 comentários:

  1. Nossa ! Arrasou ! Espetacular ! Mas cá entre nós , bem que o Lula podia se atirar de uma ponte bem alta ! Não precisaria ter um rio congelado lá embaixo...um asfalto bem quente já estaria bom !
    O post está bárbaro ! Bjos

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  2. Regina, voce arrasou tb. Concordo em tudo com vc !

    Edison

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  3. Oi Édison !!! Que bom que concordamos !
    Vamos fazer a nossa parte por um Brasil melhor ,né ?
    Um abraço

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