domingo, 10 de abril de 2016

Nossa Senhora Desatadora de Nós

Todo mundo nessa vida, inclusive esse escriba que vos tecla, tem um, ou vários nós na vida que não consegue desatar. Dilma Roussef sabe muito bem do que estou falando. A Bíblia alerta sobre o Orfão e a Viúva. Ai de quem mexer com o Orfão e com a Viúva. Sempre achei que puseram estas palavras na boca de Jeová para alertar os patrícios para cuidar da legião de órfãos e viúvas que se produzem em tempos de guerra. O Deus do Velho Testamento é frequentemente invocado para proteção dos ataques dos inimigos, para criar um escudo indestrutível contra as flechas venenosas e os animais peçonhentos. Um deus da Guerra. Cuidar de órfãos e viúvas é tarefa dos sobreviventes. Com o passar dos anos e com um capítulo em livro de Edward Edinger, comecei a perceber que Orfão e Viúva, além de uma questão social em tempos de guerra, também são arquétipos, que estão bem perto deste Arquétipo spinelliano, que é o Arquétipo do Grande Nó. Explico. Calma que eu explico.
No geral, temos os dois arquétipos em nossa Psique. Mas a tendência é que homens tenham mais a predominância do Orfão e as mulheres, da Viúva. Os livros de autoajuda e os vídeos do Youtube prometem, a grosso modo, sucesso profissional e Ferraris para os homens, e Amor Eterno com Alma Gêmea para as mulheres. O homem imagina que o Pai simbólico vai guiá-lo pelo labirinto da vida para atingir o sucesso e o poder. Quando Jesus foi tentado pelo Demônio, recebeu a oferta de abundância, de poder sobre as coisas da Terra e sobre a própria morte, e Jesus refutou todas as tentações. O PT, não. Mas esta é outra história.
O Orfão talvez represente a grande ferida do Masculino. Édipo é abandonado para morrer por seu próprio pai, Laio. E carrega sua dor pelo resto da vida, mancando. Ele tenta superar a sua orfandade através de um destino heróico. Ser o Rei, vencer os monstros, ser campeão, ter o carrão, tudo é uma busca, interminável, pelo Pai. Aquele que se perdeu.
A Viúva espera, muitas vezes com o marido vivo, que as promessas dos desenhos de Walt Disney finalmente se cumpram. Se ela fizer tudo certo, o Príncipe virá resgatá-la do calabouço da vida diária. Ela pode mudar tudo, fazer musculação, colocar silicone em todas as curvas, caprichar no perfil das redes sociais e dos aplicativos de encontros, sempre esperando pelo amor que vai preencher todas as lacunas e redimir todas as caixas de lenços e de chocolates consumidos na infinita espera. A Viúva espera, em sua dor, pelo marido que vai voltar do Silêncio.
O Arquétipo do Grande Nó é o que traz as pessoas para os divãs ou mesas de cirurgia estética. A Física Quântica Pop jura que criamos a própria realidade e basta mentalizar, acreditar e agradecer que tudo vai se manifestar em nossa vida: um carrão, um grande amor, um prêmio de loteria. O Nó está lá, como que rindo das tentativas de ignorá-lo. Amanhã começamos o regime, começaremos a fazer exercícios regulares, meus sonhos vão se realizar, vou dar a grande tacada, a sorte vai mudar. Dilma sonha com a derrota do Impeachment, Lula quer voltar a ser presidente, todos os problemas serão superados.
O problema do Nó é que, se ignorado, ele fica cada vez maior. Se tentamos desatá-lo na marra, ele fica cada vez mais apertado. Aqui entre Nós (sem trocadilho), não adianta ignorá-lo nem tentar desatá-lo à força.
Quando a questão é o Grande Nó, saiba que o Nó abre sempre um caminho. Este caminho, se trilhado, é o da compreensão. Compreender a natureza da própria limitação é o começo. Desatar o nó demanda atenção, criatividade e muita, muita aceitação. Esse é o longo trabalho de uma análise e de uma vida. É desatar um nó de cada vez.

2 comentários:

  1. o problema é olhar para a escadaria, estando no primeiro degrau, e ver o tamanho dela...dá um desanimo...acho que aprender a curtir o subir é de fato isso: necessário aprender.

    vamo que vamo, dr!

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  2. Eu não sei se dou risada ou se choro... e provavelmente os dois

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