domingo, 3 de abril de 2016

Os Dois Lados da Moeda

Havia um tempo em que tudo o que era alternativo trazia o adjetivo de “Holístico”. A Cura Holística buscaria o Todo, a Totalidade, em detrimento à nossa visão parcial e científica, que mutila a verdade em míriades de pequenos pedacinhos que nunca se juntam. Holistas e Reducionistas se enfrentam desde que o mundo é mundo, e eu tenho a impressão que toda briga ideológica pode ser resumida em partidários do Hemisfério Cerebral Direito contra os amigos do Esquerdo. Tenho a impressão que a disposição dos parlamentares nos debates napoleônicos, após a Revolução Francesa, acabaram gerando um equívoco neurocientífico, alguns séculos depois. Os Conservadores, identificados com a Direita, estavam do lado errado. O Hemisfério Esquerdo é mais conservador, serial, ordenador e até um tanto obsessivo com a ordem, pois a mesma é a condição para o Controle. O Hemisfério Direito é mais revolucionário, intuitivo e vive desafiando a velha ordem do outro lado com novas intuições e insights. Podemos concluir que, no Cérebro, a Esquerda fica do lado direito e a Direita fica do lado esquerdo. Parece mais confuso do que é.
Os “Holísticos” hoje viraram os “Quânticos” e compartilham visões místicas e não locais do mundo. Deixo transparecer alguma ironia com eles, e não devia, porque procuro uma prática clínica sempre mais para o lado da totalidade do que da redução, e muito mais para a não localidade do que para o mundo newtoniano da causa e efeito lineares.
Normalmente, o preço de se querer usar mais o lado direito é saber muito bem o que fazer com o esquerdo. Para a liberdade, a intuição e os grandes holismos, é bom saber muito bem do que se está falando. E ter muito, muito rigor para perceber quando se está errado.
As corporações são particularmente obcecadas pela formação de líderes. Também teremos os líderes mais identificados com cada Hemisfério Cerebral. Existem os líderes seriais e os digitais. Os primeiros são mais obsessivos e perfeccionistas, sempre preocupados com os detalhes e os resultados. Os segundos são mais relacionais, cuidam da motivação e protegem o seu time, às vezes com o próprio emprego. Alguns líderes puxam o saco dos chefes e descem o cacete na sua equipe. Outros são amados e fofos com a equipe e sempre tem uma boa análise para justificar números ruins. Como os números comandam o mundo, o líder deve prestar muita atenção neles. Serial ou Digital, Intuitivo ou Técnico, Severo ou Paizão, se o número não aparacer, vai todo mundo para a rua.
Mais uma vez eu gosto mais de líderes “quânticos” do que dos “newtonianos”. E mais uma vez reconheço que dar mais atenção aos resultados pode dar mais resultado do que cuidar só do “Processo”.
Um bom líder, seja ele um gerente de corporação, um professor de piano ou um terapeuta, precisa sempre do trabalho simultâneo dos dois lados do Cérebro. Ele precisa saber dos passos do processo e do caminho que vai ter que percorrer para ter os resultados. Mas, igualmente, deve ter um olhar para o resultado e como fazer para chegar nele. Felipão dizia, antes dos 7 a 1 da Copa, que o cara que não sabe porque perde também não sabe porque ganha. No caso, ganhar ou perder tem dois lados para compor e considerar. Como muito do que já escrevi nesse espaço, é mais fácil de falar do que fazer.

Um comentário:

  1. muito bom, dr...é isso aí..vejo que é inerente ao nosso processo de crescimento nos identificarmos com um dos lados...aos poucos, com a vivencia, vamos percebendo que o equilíbrio é o melhor caminho (opa, alguém já disse isso, não)....dizem que a figura mitológica do anjo representa o ser que ascende por duas asas: razão e amor.

    grande abraço.

    ps: particularmente, acho os excessivamente holísticos meio infantis...

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