domingo, 5 de março de 2017

Paz Guerreira

Fiz uma certa questão de escrever sobre os tipos de Personalidade no último post para posicionar melhor o ponto de vista deste escriba que assina o blog. Para quem chegou agora e não quer ler o post anterior, há uma antiga classificação de tipos de Personalidade que divide as pessoas em três grupos: tipo A, B e C. Os tipo A são pessoas mais adrenadas, autoexigentes e perfeccionistas, apegadas a sucesso e aquisições. Tendem a valorizar mais as tarefas do que as pessoas. Os tipos C são pessoas mais passivas e dependentes, que tendem a seguir, não liderar, e muitas vezes tem dificuldades em manifestar ou lutar por suas vontades e desejos. São mais focadas em pessoas e cuidados, menos obcecadas por resultados. Borges escreveu em um texto que já publiquei aqui: “Bem aventurados os ricos sem arrogância e os pobres sem ressentimentos”. Estava falando da doença dos tipos A, que é a arrogância e o desprezo pelo Outro, ou mesmo do humano. Falava também da doença dos tipos C é o ressentimento e a inveja, sobretudo atribuir o sucesso alheio a roubo, trapaça, sorte. Os tipos B teriam características dos outros dois tipos. São mais equilibrados e podem usar as características positivas (ou negativas) dos outros tipos. Como o pensamento Junguiano entende que a saúde está no equilíbrio e não nos excessos, então buscamos, interna e externamente, ser mais B do que A ou C. Mas antes de tudo, que cada um seja o que é, ou que consegue ser.
Escrevo sobre isso porque quem ler atentamente os quase 600 posts desse blog vai achar o autor meio esquizofrênico, capaz de defender apaixonadamente posições tipo A ou tipo C, algumas vezes na mesma semana. Em outros posts, espero que os mais frequentes, a busca é sempre pelo equilíbrio e a união das tendências. A Alquimia chamava isso de “Coincidência de Opostos”; por exemplo no termo “Paz Guerreira”. Tem um TEDx no Youtube que a moça propõe um “Egoísmo Altruísta”. Não assisti à aula mas gostei da ideia. Tem a ver com a Coincidência, depois a União dos Opostos. Diziam os alquimistas que só podemos juntar o que podemos separar. Essa é uma tarefa dos terapeutas e da vida: buscar sempre o equilíbrio. Tentamos modular os excessos dos tipo A, ativar e acelerar os tipos C, ou tornar os tipo B mais completos. Uma das questões com relação às terapias é enfrentar uma das frases do Dr House: “People don’t change”, ou, em tradução livre: “As pessoas não mudam”. Isso quer dizer que as pessoas tem uma constituição, uma estrutura de personalidade que se mantém estáveis durante a vida. Tenho dois filhos e uma cachorrinha, e todos tem características de personalidade e temperamento que já apresentavam quando eram bebês. Isso não significa que não tenham que aprender ou desenvolver outras habilidades e trabalhar seus pontos fracos, mas a personalidade se estabelece de forma estrutural e muda a sua estrutura em situações limite, como tragédias ou lavagem cerebral (que ainda não tentamos, mas dá vontade às vezes).
Acho pessoalmente que vivemos uma época em que a Cultura estimula e premia os tipos A, mas cria diariamente milhões e milhões de tipos C, pessoas anestesiadas e paralisadas diante da vida e das telas de computadores, ou afogadas em mídias sociais que lhe subtraem a experiência do Real. O tipo C mais prevalente e perigoso é uma doença da modernidade, a alienação de Si e do Outro. Se alguém disser que o autor puxa mais a brasa para a sardinha do A do que do C, também estaria certo.
Sendo qual for o tipo de Personalidade, que o Taoísmo chama de Yin e Yang, os tipos A tem prevalência de Yang e C de Yin. Seja qual for a predominância de seu tipo, a busca é do equilíbrio das tendências e a participação no jogo da Vida. Talvez esse seja o grande tema desse blog, em tantos temas e textos diferentes.

2 comentários:

  1. Quando conclui que as pessoas são aquilo que conseguem ser, fiquei mais pacificada.

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  2. Amei este texto. Me faz pensar como encontrar o equilíbrio.

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