domingo, 30 de julho de 2017

O Fim, o Início e os Meios

O escritor argentino Jorge Luis Borges passou u bom período de sua vida como escritor tentando encontrar a sua voz de criador, a forma pela qual conseguiria fazer fluir a sua literatura. Quando finalmente ficou feliz com o que nascia da sua pena, tratou de sumir com tudo o que tinha escrito antes e não representava o que ele tinha vindo ao mundo para manifestar. Seus textos foram ficando cada vez mais curtos, com uma espécie de fusão de prosa e poesia, que foram virando a mesma coisa. Num de seus contos, um explorador procurava em meio a deserto e paisagens inóspitas uma tribo, um agrupamento humano que se dizia, tinha encontrado a fonte da imortalidade. Depois de uma longa procura, encontrou a tal tribo, e, com grande surpresa e desolação, percebeu que a imortalidade tinha transformado aquela gente em selvagens, que não falavam mais e ficavam grunhindo em total inconsciência, na miséria e na nudez. Termina assim o conto. Borges deixa a metáfora pendente sobre a cabeça do leitor e ele que se vire com isso. Eu entendo que ele descreve que, a percepção da Morte e da finitude talvez seja a característica que nos constitue como humanos. Perceber que nosso tempo é finito e que há um futuro com o qual temos que lidar e, quem sabe, criar, talvez seja uma das maiores fontes de angústia do humano, mas é também o aguilhão que nos espeta para frente. O que vou construir, o que aprender, qual consciência ampliar, o que experimentar, quanto gozo gerar e receber, isso tudo impulsiona um homem na direção do que será o mundo após a própria morte. O conto mostra que, sem a percepção da finitude, o ser humano deixa de ser movido por essa angústia fundadora e perde a razão de viver. Esse é o paradoxo do conto. O que nos permite viver é a Morte.
Por falar em finitude, tenho namorado a ideia de parar com esse blog nesse ano em que ele completa sete anos de vida e mais de seiscentos posts publicados até aqui. Tem um belo apanhado de assuntos aleatórios que representam algumas das melhores e piores ideias desse autor. Posso continuar com outros textos e temas diferentes. Quem sabe, um blog que tenha um tema específico, como Foco, Motivação, Jornada da Alma. Como escrevi no post anterior, fazer um texto em Animus e outro em Anima, em espaços diferentes e sem os textos dominicais. Sem um ritmo específico, ou com uma ausência de ritmo. Vou continuar com esse blog até Outubro e aproveitar essa sensação de tempo se esgotando para deixar esses textos mais afiados, mais sinceros, mais definitivos. Tem muito material para o visitante tomar contato com as impressões do autor e está na hora de mudar de formato e de voz. Talvez até escrever um blog de verdade, porque a estrutura desse aqui é muito mais de uma coluna de ensaios, artigos, crônicas. Tem sido um passeio bacana dentro desse caminho que compartilhamos todos, como buscadores. Eu, Caçador de Mim, diria Milton Nascimento.
Minha vida como terapeuta e médico me ensinou e me ensina a força, a potência de silenciar. Como o silêncio torna intenso o que foi dito e, mais ainda, o que pode ser dito mais adiante.
Agradeço aos seguidores (todos os doze) e aos visitantes, que são bem mais numerosos. Vamos botar um pouco de pimenta nesse angú. Vamos visitar cada post como se fosse o último. É o fim que dá sentido ao início e o meio.







5 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Tudo bem Dr. Marco, desde que não nos deixe alheios aos seus pensamentos e sentimentos, que nos inspiram e confortam. Ou nos lembram do que devemos, em algum momento, resolver. Ou ainda, ficar em silêncio e esperar. Enfim, é sempre muito bom ler seus posts. Você pode pensar num livro ou num canal no YouTube estilo TEDx! Abs,

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  3. Oi Dr.,

    Sobre a morte: baita coincidência...assisti ontem ao vídeo da Lama Tsering sobre isso (https://www.youtube.com/watch?v=MPZ29gkXcPw)

    Sobre o término do blog: entendo que sete anos seja cansativo mesmo...mas não deixe órfãos os seus 12 seguidores, por favor...)

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  4. Nãaaaaaaaaão Dr Marco ! Vc não faz ideia de como isso aqui é bom pra nós .... pensa que pode ser a crise dos sete anos ... vai passar...
    É tão bom esse elo , parece que temos sempre sua companhia , sua fala ...
    Nao importa o assunto , nem a frequência ...
    Sempre é bom correr os olhos por aqui ! Bjos

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  5. Agora fiquei triste. Mas compreendo. Vamos aproveitar, então! Bjs

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