domingo, 11 de maio de 2014

O Amor no Tempo das Redes Sociais

Hoje no almoço do Dias das Mães conseguimos a proeza de reunir diversas gerações de mães e avós em torno de uma mesa de churrasco. Conseguimos fazer aquelas coisas estranhas e antigas, como conversar, por exemplo, competindo com afinco com os Smart(?)phones , que finalmente em algum momento captaram a atenção dos mais jovens e dos não tão jovens.
O mago de autoajuda Deepak Choppra foi filmado pelo filho, que resolveu economizar alguns anos de divã e exorcizar seus demônios com o seu pai, dono de um Império, num filme sobre seu pai ausente e narcisista, idolatrado pelos fãs. Deepak foi à Tailândia para se tornar um monge budista, mas não desgrudava de seu Blackberry e checava seus e-mails entre um mantra e outro. O seu filho registrou a contradição de maneira implacável em seu documentário sobre o pai/ celebridade. Será possível atingir o estado de Buda com um celular apitando de minuto em minuto?
É muito tentador analisar a fixação das pessoas nas redes sociais e seu caráter aditivo, como uma dependência química, pelo ângulo do Narcisismo. Os smartphones seriam os novos espelhos de Narciso, e as pessoas veriam o seu Eu ideal em suas fotos no Instagram e nos chats do whatsapp. Mas não vou por aí.
Grooming é uma expressão da Neurobiologia para descrever um comportamento de proteção que um grupo de animais pode desenvolver para apoio mútuo e defesa de um grupo contra ataques externos. Lembro da foto de um grupo de macacos catando piolhos uns dos outros quando o seu pequeno grupo estava escondido do risco de um ataque de predadores. Em situações de risco, os machos da espécie tem uma tendência a se endurecer e se preparar para a luta ou a fuga. As fêmeas, por outro lado, tem uma capacidade maior de estabelecer esse comportamento de “Grooming”, com proteção mútua, estabelecimento de alianças e proteção dos filhotes. Talvez esse tenha sido o comportamento primitivo que dá base ao incrível efeito viciante dessas redes sociais: a sensação de estar conectado a um grupo quase infinito de amigos virtuais que fazem parte de uma família, ou uma tribo imaginária. Nesse mundo em que se apagaram as identidades e o poder protetor dos grupos, estar filiado a um grupo do whatsapp ou curtir uma foto de um colega de faculdade, pode ser o exercício de afeto mais intenso e íntimo do dia de uma pessoa. As redes sociais podem traduzir uma sensação de proximidade e afeto, como estar num churrasco virtual com um grupo de amigos, que estão em outros churrascos com outros amigos, até que o mundo inteiro esteja num churrasco infinito, onde todos postam e retwitam as suas impressões, enquanto a carne esfria.

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