quinta-feira, 1 de maio de 2014

O Vencedor e as Batatas

Caetano Veloso, já num período de maturidade artística, fez uma incompreensível música sobre Alexandre, o Grande, o que não será objeto de análise desse blog. A música era muito ruim e não deve figurar nas antologias de sua impressionante obra. A parte que interessa a este post é uma passagem dessa música em que menciona que o mestre de Alexandre era o filósofo Aristóteles, “cuja cabeça até hoje sustenta o Ocidente”.
Tenho a impressão que a cabeça que sustenta o Ocidente e grande parte do mundo, em nossos dias, é de Charles Darwin. Estou lendo um livro que menciona que Darwin deu de presente uma cópia do seu - “Origem das Espécies”- para um tio, que recusou o mesmo de maneira pouco polida. A sua justificativa é que Darwin tinha abolido a ideia de um Universo ordenado e moral, colocando no trono da divindade o Acaso selvagem. Pois o velho tinha toda razão e nenhuma Razão, podemos assim dizer: desde então, a Física Quântica e a Ciência foram destruindo gradativamente a noção de que há alguma ordem em nosso mundo. Tudo é mutação aleatória de nossos genes, que nos torna mais ou menos aptos a perpetuar nosso Genoma. Vivemos então sob a metáfora do “Gene Egoísta”, isto é, a única moralidade possível é a sua capacidade de sobreviver e perpetuar o nosso material genético (ou perpetuar nossos “genes egoístas”). Prevalecer ou morrer, essa é a lei (lembro quando escrevo isso de Quincas Borba, personagem do incrível Machado de Assis: Ao vencedor, as batatas).
O mundo darwiniano nos legou, paradoxalmente, um mundo mais primitivo do ponto de vista do afeto. Presenciamos um mundo onde grupos, ideias, empresas, pessoas, vivem e morrem com a intenção de prevalecer, superar, eliminar os concorrentes pelos nichos de poder. O mundo está dominado por paleoprimatas que vivem correndo para conseguir as melhores fatias do bolo, ou, de preferência, deter os meios de produção de todos os seus ingredientes. Corremos, corremos com medo da falência, da fome ou, pior do que as alternativas anteriores, do esquecimento. O Inferno é o silêncio.
No seminário que fui, na semana passada, garimpei uma aula particularmente interessante, de uma geneticista que procurava pela diferença genética entre saúde e doença, quais genes “causariam” as doenças. Angelina Jolie à parte, não existem genes projetados pela Mãe Natureza com a finalidade específica de causar doenças. O que ela descobriu é que determinadas doenças tem uma característica em comum de causar problemas e erros de multiplicação e função celular. Doenças como a Hipertensão Arterial, diversos tipos de Câncer e o Diabetes estão associados a esse problema na função das células, o que, por sua vez, está associado à ativação de determinado grupo de genes. Isso, na modesta opinião do escriba desse blog, confirma a origem e o funcionamento comum de diversas doenças de base inflamatória, como as doenças cardiovasculares, neoplásicas, autoimunes e mesmo nas doenças psiquiátricas como as geradas pelo estresse físico e psíquico, como Ansiedade e Depressão. Tudo pode ter uma fonte comum.
Nosso mundo darwiniano glorifica os campeões do correcorre de genes e memes egoístas. Isso produz nas pessoas um estado de urgência e o estímulo aos afetos negativos, como o medo, a raiva, o ressentimento. A sensação de insegurança, o medo do futuro, a alimentação e o estilo de vida inflamatórios estão completamente associados às doenças que tentamos e não conseguimos curar. Já há evidências científicas que cultivar emoções e sentimentos positivos cause um impacto mais profundo em nossa saúde do que nossas emoções darwinistas de luta por territórios e transmissão de genes. O homem sobreviveu às diversas fases de sua acidentada evolução pela capacidade de estabelecer alianças e proteção mútua. A comunicação e a cooperação nos salvaram nessa jornada. Foi isso que nos salvou da Seleção Natural e aumentou a complexidade e a capacidade de nosso Cérebro: fazer amor, não a guerra.

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