sábado, 9 de setembro de 2017

Se o Grão Não Morre

Esse Blog chegou na semana passada ao post de número 610. Como já anunciado em Julho deste ano, ele vai ser encerrado agora em Outubro, e o autor dessas mal tecladas linhas vai se dedicar a outros projetos. Vamos encerrá-lo então com 615 posts, número que soma 12, o mesmo de seguidores do Blog. Apesar das manifestações de desespero e inconformismo de ao menos 2 dos seguidores, vamos dar cabo desse projeto. O projeto de dar cabo do Blog. Bem, vocês me entenderam. Vamos ao post de hoje. O 611 :
Um amigo foi a um churrasco onde dois “inteligentinhos” (termo cunhado/explorado por Luiz Felipe Pondé) diziam do futuro do planeta ser de um Paraíso Terrestre onde todos serão Socialistas e Vegetarianos. Uma visão anterior ao Neolítico, onde os proto humanos eram caçadores e coletores e não havia hierarquia, chefias ou curtidas em Facebooks pré históricos. A carne era um artigo de luxo e aparecia muito raramente em meio à exploração de frutas, raízes e grãos. De fato, todos eram “socialistas” antes do termo ser imaginado, e a Raça Humana sobreviveu muito mais pela sua capacidade de colaboração do que de genes egoístas competindo entre si. Com a Revolução do Neolítico, a terra passou a ser cultivada, nasceu a Agricultura, e, com ela, o trabalho, os papéis sociais e as hierarquias foram se complexificando. Homens passaram a explorar outros homens e os perdedores da disputa eram feitos de escravos, enquanto que uma casta de Homens Deus exigiam e faziam sacrifícios de jovens e de animais para que a terra continuasse frutificando em boas colheitas (hoje em dia eles guardam milhões em apartamentos, mas essa é outra história). O sonho igualitário acabou, com a estratificação de funções e responsabilidades. Acabou o paraíso sem hierarquia, que não existe nem nos mosteiros budistas, mas resiste na cabeça de marxistas e professores de Sociologia. As crianças não passam fome em Cuba, dizem, mas se quiserem se desenvolver e pertencer ao mundo, vão ter que subir no bote e atravessar o mar quando crescerem. Mas não é esse o assunto do post.
Junto com a Agricultura, veio a Mitologia fundada em deuses agrícolas. Não é à toa que Jesus é morto e desmembrado simbolicamente, desce às profundezas da terra e ressuscita no Terceiro Dia. A Morte e a Ressurreição são as forças intrínsecas da Vida, em seu Eterno Ciclo de Transformação. Sempre que o homem tenta dominar essa força da vida, grandes tragédias ocorrem, como podemos ver nos noticiários. O fato é que a Morte como condição geradora da Vida chegou à Mitologia através do salto tecnológico que foi dominar o Grão, de onde surgiam novos frutos e alimento. A vida se dá na morte do Grão.
Talvez dessa mudança cultural do Neolítico e o domínio de tecnologias ainda mais avançadas, da Fala e da Escrita, que surgiu o que Jung chamou de Arquétipos: o Céu, a Terra, o Dia, a Noite, a Mãe, o Pai, o Herói, a Criança Divina. Tudo o que o homem via e em seu assombro pintava nas paredes foi fundando uma Mitologia, em que as forças inerentes à Vida e à Morte foram virando Deuses que protegiam ou se enfureciam com os humanos. As trapaças da sorte e do azar passaram a ser regidos por deuses de formato e afetos muito parecidos com os dramas de nosso desenvolvimento. Os Mitos hoje viraram as celebridades e suas histórias glamurosas e tragicamente humanas. Marte e Afrodite se deitam nas páginas dos tablóides ou nos sites de fofocas.
A vida humana nasce na Primavera, onde o grão finalmente floresce ou se manifesta. Os primeiros setênios de nossa vida são dedicados a formar a nossa estrutura como planta psíquica. Erros de formação e feridas nesta fase vão nos acompanhar em toda a vida como virtude ou doença. A fase Heróica ou de maturidade, que coincide com os anos de adulto jovem até a meia idade, seria o Verão: chuva, reprodução e calor interno e externo. Na meia idade e maturescência seria o Outono, onde se perde o vigor e o calor da juventude, mas, se tudo der certo, vem o ganho da serenidade e das temperaturas amenas. Em alguns casos, a Sabedoria que pode conduzir os jovens e proteger as crianças. O Inverno vem com a perda de algumas funções e do calor de outras fases. Jung dizia que às perdas do Corpo corresponde uma grande expansão energética da Psique. Como cantou Caetano, o homem velho deixa a vida e morte para trás. O Inverno é um período de interiorização e contemplação da vida e do mundo. Ou de dor e infortúnio, como vemos em muita gente.
Um bom trabalho terapêutico é seguir e traduzir para as pessoas as diversas fases da vida, onde, como o Grão, morremos e ressuscitamos muitas vezes. Nos próximos quatro posts vou falar sobre essas fases, que se repetem em nossas vidas e estações: A Perda, a Pedra, a Letra e o Perdão. Vou usar um filme que está no Netflix, que muito curti: “To the Bone” ou “O Mínimo Para Viver” como base para as diferentes fases de nossa vida e do processo de Transformação. Isso pode dar origem a outros Blogs e outras falas no Futuro.

3 comentários:

  1. muito bom texto, Dr...obrigado :)...qdo, ao começar a fazer a yoga e estudar um pouco a mitologia hindu (a primeira com a qual entrei em contato volutariamente) e li que Ganesha (deus do amor) era filho de Shiva (deus da destriução), algumas fichinhas sobre a vida começaram a cair..hehe..

    e vamos curtir os outros 4 posts..

    abs,

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  2. E se a gente criasse uma comunidade: Spinelli, não acabe com o seu blog,please!!!!!!!
    Porque acabar?
    bjos,
    Lucia Andrade

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  3. Siiim , Lucia ! Vamos criar a comunidade :
    " Spinelli , não acabe com o seu blog , please !!!! "
    Lov.U

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