segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Anorexia, Vigorexia, Transtorno Dismórfico: Patologias de Imagem?

Há um livro de que gosto muito, "Superfreakonomics", onde os autores descrevem várias curiosidades do mundo dos Economistas e como eles tentam entender o mundo através de estatísticas e algoritmos matemáticos/computacionais. Em dois capítulos diferentes eles discutem os malefícios e os benefícios da Televisão na sociedade humana. Primeiramente, um dado estarrecedor: a chegada da TV em diferentes pontos do país, no caso, Os Estados Unidos, a partir dos anos 50, fez disparar os índices de violência e criminalidade nos estados onde os programas de TV e a venda de aparelhos foi mais significativa. Isso numa época em que as crianças podiam ligar os aparelhos sem dezenas de opções de tiros, corpos mutilados e zumbis sanguinários devorando gente. Esse aumento da criminalidade muito provavelmente não se deu pela força sugestiva das imagens, mas pelo aguçamento do desejo de consumo gerado pelas imagens da propaganda e do merchandasing nascentes. Compre, compre, compre. Queira, queira, queira. No auge da Crise Mundial de 2009 Lula pedia à classe média para continuar comprando. Essa é a nova utopia humana: comprem, consumam, devorem.
Voltando ao início de nossas postagens sobre o Transtorno Dismórfico Corporal, você tem um Ser definido pelo o seu Fazer e o seu Ter. Eu Tenho, logo Existo. A sociedade de Hipermídia passa a tornar vital a todos um bom lustro em nossas Personas: qual a nossa aparência, que carro dirigimos, em que revistas aparecemos. Temos uma fração de eleitos sorrindo na Revista Caras, definindo um padrão: Seja Rico e Bonito ou Pereça Socialmente. O Inferno é o Exclusão.
As meninas chegando à adolescência passam a serem pressionadas por padrões de beleza inatingível, sobretudo pela magreza e a perfeição de formas. É nessa fase, aliás em idades cada vez mais tenras, que os consultórios começam a atender pré adolescentes aterrorizados com a própria Imagem. Mas as patologias de Imagem não se restringem a essas faixas etárias. Transtornos Alimentares, como Anorexia e Bulimia, dependem quase exclusivamente da preocupação obsessiva coma própria imagem e da aceitação pelo grupo. Atendi recentemente uma moça que ficou bem perto de um ato suicida bem planejado pelo nível de assédio e perseguição que sofria na escola por ser gorda e feia, em suas próprias palavras. A escolha de sua carreira e de vida pessoal foi profundamente afetada por essa vivência. Observamos também outras patologias de Imagem, nos casos de Vigorexia, ainda uma doenças não classificada pela Psiquiatria, mas cujo número de casos vai se tornando cada vez mais frequente gerando outro abuso, o de medicamentos anabolizantes. O quadro pode começar de forma tão branda quanto o de uma menina que começa a noter o seu nariz um pouco torto, até isso virar uma preocupação torturante e pervasiva em todo o seu dia. Uma inocente busca de melhor forma física em nossas academias pode deflagrar uma mudança profunda no comportamento dos Vigoréticos, que passam a ser parte de uma tribo de marombados, sempre preocupados com suplementos e massa magra para exibir os músculos e forma física em nosso mercado de Personas até começarem as lesões por estresse ou por supersolicitação de músculos entre halteres e aparelhos sofisticados.
Não visamos abolir a Televisão nem a Internet, o que só seria possível em uma comunidade Amish americana ou em algum lugar no interior do Sudão, mas criar um foco de consciência nas pessoas. Nem vamos negar os profundos benefícios de se cultivar a beleza e a autoestima para todos. Vamos democratizar a beleza e o bem estar, claro. A nossa questão é que os filhos e os pais estão sendo continuamente pressionados a serem cada vez mais compulsivos. Para o cirurgião plástico e o psiquiatra, isso é bom motivo para manter a independência e o espírito crítico na hora de diagnosticar e indicar tratamentos. A virtude, como nos tempos dos gregos, continua na justa medida, o que é bom e previne compulsões.

Um comentário:

  1. Dr., estava aqui refletindo um pouco a respeito do medo do olhar alheio.Quem tem tanto medo de ser criticado e portanto busca uma imagem perfeita, deve ser um grande crítico.
    Então, a busca em ter bela imagem tanto no campo profissional, social, afetivo, fisico, mostrando o quanto se é capaz de brilhar, ultrapassa a satisfacão em sê-lo para atingir a admiracão alheia.Assim, vira um ciclo vicioso ,onde uns temem os olhares dos outros e buscam freneticamente se destacarem, se diferenciarem na mesmice,onde podem se machucar.
    Ah, o equilíbrio!!
    Vamos caminhando, vamos caminhando...

    Abraco,

    Sonia Salles

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