quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Transtorno Dismórfico Corporal - Abordagem

Vou parar de incomodar os meus poucos seguidores desse blog com esse assunto. Foi ótimo escrever sobre o tema, me ajudou a organizar as idéias para a aula no Projeto Open, voltada para jovens cirurgiões plásticos, amanhã. Para finalizar essa série, vou voltar aos parâmetros de atividade e psique humana que emprestei da Cientologia no início desses textos: Doingness, Havingness e Beingness. Para que voltarmos a isso?
Agora pouco eu conversava com uma cliente, ex modelo que, de cabeça me citou meia dúzia de colegas com diversos graus de Transtornos Dismórficos Corporais. Uau. Realmente podemos estar diante de uma epidemia ( no caso das modelos, uma doença ocupacional?) A obsessão com a imagem, com O Havingness - quem tem o melhor corpo, quem é mais jovem, espelho, espelho meu, vai criando esse circuitos reverberantes de Preocupação-Ruminação-Obsessão que provocam tragédias de procedimentos desnecessários, depressões e afastamentos de pessoas bonitas, bem sucedidas, no auge da carreira, simplesmente pelo medo da feiúra, medo do ridículo, medo da exclusão. Bem sabemos que vivemos em uma sociedade onde o medo da exclusão é a moeda de troca para escravização de todos. Como abordar esses diferentes estágios de medo?
O médico precisa zelar pelo Beingness. Sabemos que a ênfase é no Doingness: "Eu vi os seios que você fez na minha amiga, ficaram lindos"; "Ouvi falar que o senhor é um verdadeiro artista". O paciente procura aparentemente por um Doingness,a destreza técnica do profissional, os resultados obtidos, o Fazer e o Ter do médico: qual o resultado, quantas pessoas conhecem, ele é famoso? Na hora do "vamo´ver", entretanto, o que vai estar em jogo é o Beigness: quem é o profissional, quanta tranquilidade vai conseguir passar, ele será um capitão do barco que vai zarpar no Pré Operatório e vai concluir a jornada na alta? O paciente quer Ser alguém, quer um médico que lhe transmita um Beingness. Quando ocorrem acidentes de percurso, como sintomas afetivos, ansiosos ou dismorfofóbicos, podemos resumir a abordagem nas "Quatro Nobres Verdades" a serem transmitidas ao paciente:
1a Nobre Verdade: "Há uma área do seu Cérebro que está hiperativa". Viu que legal? Substituimos o "É psicológico" ou o pior: "Isto é coisa da sua cabeça" por uma frase que dá ao paciente uma base orgâncica e não "imaginária" para o seu sofrimento. Já cansei de ver o paciente sair muito melhor do consultório só pela sensação de alguém sabe o que ele tem e o que fazer com aquilo;
2a Nobre Verdade : "A sua condição tem tratamento". Melhor ainda. A mensagem é mais clara ainda. Além do quadro ter uma base orgânica, ela é abordável clinicamente e o seu médico de referência pode ajudar, ou chamar alguém que ajude.
3a Nobre Verdade : "O Tratamento de sua condição consiste em reduzir o Hiperestímulo do seu Cérebro Emocional". Refinamos ainda mais a mensagem. Vamos frisar a estratégia dessas três mensagens:
A Olhe o problema de fora. Não é você que está pensando, é alguma coisa dentro de você que está te deixando hiperestimulado(a);
B Esses pensamentos são um sistema que se retroalimenta de si mesmo, precisamos cuidar disso para lidar com esses sintomas;
C Estamos (eu e você) capacitados para lidar com isso.
Genial, heim? O Beingness do médico e do paciente estão valorizados e prontos para debelar a crise. Finalmente:
4a Nobre Verdade: não é a Senda Óctupla do Budismo, mas a Senda Trina, a saber:
A Atenção Correta: preste atenção aos pensamentos até que eles vão diminuindo. NÃO BRIGUE COM OS PENSAMENTOS, NEM TENTE CONTROLÁ-LOS. Apenas preste atenção, até que eles vão encolhendo, aos poucos.
B Ação Correta; use medicamentos que diminuam o estado de hiperexcitação, como tranquilizantes que vão da Passiflora aos Benzodiazepínicos, além dos Inibidores da Recaptação da Serotonina.
C Esforço Correto: mude o foco de seus pensamento. É proibido ir ao espelho,cobrir o rosto, cutucar a ferida ou manipular a região objeto de preocupação. Faça coisa que lhe agradem, refocalize os pensamento, após praticar os passos anteriores da nossa Senda Trina.
Ufa, é isso. Uma boa aula para nós, então.

Um comentário:

  1. Dr. Spinelli, adorei o tema TRANSTORNO DISMORFICO CORPORAL.Embora creia que possamos ter também TRANSTORNOS DISMORFICOS DIVERSOS.Uma loucura!!
    Desejo que sua palestra tenha sido um sucesso,pela importância para os jovens cirurgiões plásticos.Se estes virem o quanto podem contribuir para a saude dos pacientes que os procuram, trazendo-os para a realidade sem alimentar seus delírios por vantagens financeiros , diria que chegando a condicões mercenárias, muitos desses pacientes poderiam ser poupados de terem uma confirmacão médica de uma IDEIA INOCULADA, que muitas vezes não faz o menor sentido real.
    Vou daqui fazer uma prece para que seus alunos presentes nessa bendita palestra levem a sério o assunto , pois estes são processos sociais que afetam de forma direta ou indireta a todos nós, homens e mulheres que estamos buscando... e buscando... e buscando... o que mesmo buscamos tanto?
    Ah, acho que é uma perfeicão, ou pelo menos, algo melhor que o outro tem.
    E isso pode até ser saudável enquanto referência para crescimento, mas pode tornar a vida das pessoas um verdadeiro inferno.
    Ufa, ainda bem que na Quarta Nobre Verdade , temos a Senda Trina a saber e treinar, treinar muito e sem achar ruim, pois afinal de contas não é a Senda Óctupla do Budismo, (com mais cinco exercícios e disciplina, provavelmente!!!!!) .
    Bem, já vou comecar a treinar a Senda Trina, pois como disse anteriormente, acho que socialmente sofremos de Transtornos Dismórficos seja lá do que for.
    Dr. Marco, adorei o assunto.
    Parabéns!!
    Muito obrigada,
    grande abraco,

    Sonia Salles

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