sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A Idéia Inoculada

Nas primeiras cenas do filme de Christopher Nolan, "Inception" ( em Português - " A Origem "), Leo Di Caprio está apresentando uma idéia para um grande executivo,explicando para ele que o "microorganismo" mais resiliente e que nada consegue eliminar é uma idéia. A idéia inoculada na mente de uma pessoa é como um parasita que passa a crescer e a se multiplicar, gerando um sistema que pode ganhar vida própria. No decorrer do filme percebemos o quanto aquele personagem descobriu de forma trágica a verdade dessa afirmação. Inocular uma idéia pode ser mais perigoso do que um vírus ou um parasira letal. Nas últimas postagens estamos delineando esse processo em que uma idéia pode virar um sistema, o sistema uma doença, a doença uma perda de contato com a realidade.
Uma olhada no espelho pode plantar uma idéia: " o meu nariz está torto"; "A minha boca é desproporcional"; "Algo está diferente comigo". Uma idéia assim pode crescer e se multiplicar ou ficar latente, presa entre as nossas redes neurais. Vou dar um exemplo: uma impressão vaga que gravada como idéia, do tipo: " Esse filho não é meu, mas se parece com fulano". O homem passa a ter um comportamento reticente com relação ao bebê. Dias depois, se mostra irritado com o choro do mesmo. A esposa começa a notar que ele chega mais tarde em casa e pouco quer conversar. Esse processo, indo num crescendo pode bem terminar em tragédia, mas o mais comum é que essa idéia venenosa fique anos dentro da psique de seu propietário, gerando mágoa, distância, doenças. Parece estranho, mas uma das tarefas de uma boa psicoterapia é ir pescando essas idéias venenosas e colocando em perspectiva o sistema de dor que se acumula em torno dela.
No caso dos Transtornos de Imagem Corporal, esse processo pode ser tão difícil como controlar uma infecção resistente. A menina com Anorexia fica muito ofendida quando lhe pedem para comer, afinal de contas, já está imensa de gorda em seus quarenta quilos. O paciente com Transtorno Dismorfofóbico pode sair chorando de uma consulta onde o m´dico pede uma avaliação psiquiátrica antes da cirurgia, só porque é a quinta vez que se apresenta para uma Cirurgia de Nariz. As famílias olham impotentes para aquele sistema de Crenças que se multiplica como um Câncer na vida do ente querido, que se recusa a ouvir qualquer coisa que contradiga a sua visão do mundo. Imagine um cirurgião plástico, que sempre achou as aulas de Psiquiatria da faculdade um bom período para dar um pulo na Atlética. O que fazer com um caso desse? Não tem jeito é ele muitas vezes que vai ter que explicar ao paciente esse processo: uma idéia foi inoculada lá, ela passou a ser uma preocupação, depois foi virando um incômodo para em seguida começar a invadir a imaginação da pessoa em momentos que nada tinha a ver com a idéia em si. Depois de um tempo já não dá para dormir sem pensar por uma hora naquela idéia, com mil e um planos de como lidar com aquele problema, que estratégias assumir para equacioná-lo. Após alguns meses, a pessoa experimenta uma crise de ansiedade quando tem que olhar no espelho. Antes que os colegas fujam desesperado: podemos lidar com essas idéias. podemos cuidar delas. Aguardem nossos próximos capítulos para ver como.

Um comentário:

  1. Concordo,dr!!!
    E acho que o "microorganismo" são vírus.
    Vírus são difíceis de ser eliminados, se multiplicam rapidamente , mutam misteriosamente, provocam epidemias alucinantes!!!
    Hihihihih!!
    Socorro!!
    Abraco,
    Sonia Salles

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