sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Transtorno Dismórfico Corporal

Para quem está pegando o bonde andando, essa é a terceira postagem a respeito de uma aula que vou dar em uma Jornada de Cirurgia Plástica daqui a uma quinzena. O tema principal da aula está no título acima. Apesar de ser um Transtorno relativamente raro de se ver no consultório de um psiquiatra, não é tão difícil de cair nas mãos de cirurgiões plásticos, podendo representar de 6 a 15% dos casos que vão procurar avaliação. O quadro se caracteriza pela preocupação excessiva com um defeito, real ou no mais das vezes imaginado da aparência que causa um desconforto significativo na vida do paciente e mais ainda no coitado do cirurgião plástico que tropeçar num caso desses. O fato é que mesmo que o defeito realmente ocorra, o paciente se apresenta com uma preocupação desproporcional em relação ao mesmo. Esse transtorno, portanto, não tende a diminuir, mas, pelo contrário, tende a aumentar em uma sociedade pautada pelo culto à aparência como forma de aceitação e inserção social (quando escrevo isso, lembro de uma propaganda de roupas masculinas que tinha o slogan: "O mundo trata melhor quem se veste bem", com várias mulheres cercando um nerd bem vestido. Veja que tudo é uma questão de marketing. Se você nascer em um país islâmico, o slogan será "Seja um homem bomba e receba 27 virgens no paraíso"; ou, em um país ocidental: "Tenha boa aparência e amplie suas oportunidades de acasalamento"). O termo antigamente utilizado para este transtorno era Dismorfofobia. O nome está errado porque situa essa doença em uma Fobia da feiúra, ou medo exagerado de se ter uma aparência ruim ou repulsiva. As Fobias são quadros de medos irracionais e exagerados de coisas que normalmente não representam ameaça à média das pessoas. Lembro de um paciente de um metro e noventa, de causar medo na tropa de choque da Mancha Verde que se encolhia de medo ao cruzar com uma lagartixa em seu caminho. Ele sabia perfeitamente que seu medo nada tinha de racional, mas, mesmo assim, evitava situações ou lugares onde houvesse uma lagartixa. O Transtorno Dismórfico Corporal se insere no Espectro dos Transtornos Obsessivos Compulsivos, onde uma preocupação vai virando uma idéia recorrente, uma idéia recorrente vira uma idéia sobrevalorizada, que vira uma idéia obsessiva até que toda a experiência de uma pessoa se organiza em torno dessa idéia. Isso não é, apenas, uma fobia de lagartixa ou de ficar com o cabelo oleoso. É um quadro em que a idéia sobrevalorizada pode adquirir uma tal monta que a pessoa termine atentando contra a própria vida pela sensação de estar sendo observada e ridicularizada por todos. Apesar dessa gravidade, há vários recursos a se utilizar antes do quadro ficar muito grave. Vamos falar mais sobre isso nas próximas postagens.

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