sábado, 19 de janeiro de 2013

Jung para Crianças: Bob e o Self

De repente, uma questão atravessou os seus olhos. Ficou matutando essa ideia e a velha senhora quase interrompeu o processo perguntando o que se passava em sua cabeça.
- Posso te perguntar uma coisa?
- Claro que pode.
- Por que essas coisas que você estuda estão fora de moda?
Sorriu com um traço quase imperceptível de tristeza nos olhos.
- Você está vendo essa parte aqui do programa?
- Esse é o evento?
- É. Pelo menos é uma parte dele. Essa parte está cheia de pessoas falando de doenças.
- Doenças?
- Doenças. Doenças difíceis de tratar, como alguns tipos de doença oncológica. Você sabe o que é uma doença oncológica?
- Não.
- As doenças oncológicas são também chamadas de Câncer. Você já ouviu falar em Câncer?
Assentiu com a cabeça.
- As pessoas estão tentando entender essas doenças há séculos. Tentam arrancar, irradiar, bombardear essas doenças para deixá-las sob controle, para não deixar que essas células matem as boas células de nosso corpo.
- O que isso tem a ver com o que você estuda?
- Tem tudo a ver com o que eu estudo. Mas muita gente aqui nesse simpósio não acredita nisso. Muita gente não quer nem ouvir falar nisso, para dizer a verdade. Elas só querem saber qual é a última novidade para tratar as doenças, como fabricar nanorrobôs, anticorpos monoclonais, manipulação de genes, para combater essas doenças. Elas só esquecem de uma coisa.
Ela continuava muito atenta.
- Todo dia essas células malucas são produzidas. Como se saíssem com defeito. Esse defeito pode crescer e virar uma doença.
- Essas células doentes podem virar um Câncer – falou com um ar de enfado, como quem pergunta: “Tá pensando que eu sou uma criancinha?”.
- Muito bem, querida.
- A minha mãe já me explicou.
- Que legal.
- A minha mãe é uma das pessoas que deve achar o que você fala uma bobagem.
Não pôde conter o riso. A menina também.
- Agora me fala uma coisa.
A senhora enxugou algumas lágrimas de riso.
- Pois não.
- O que tem a ver a tal da Alquimia com o tratamento de Câncer?
Caiu na risada, de novo.
- Pois é, essa é a pergunta que todos me fazem. A menina que digitou o programa também deve ter pensado a mesma coisa, tanto que não colocou a aula no curso... Deixe-me ver...Como eu posso te explicar?
Coçou a cabeça.
- Você já viu um formigueiro?
Uma pergunta cabível diante de uma menina criada em apartamento.
- Já vi, sim. (Respondeu com aquela cara de “Tá pensando o que?”).
- Então... Você já se perguntou como que uma cidade tão complexa quanto um formigueiro mantém sempre aquele nível de organização?
- Elas são programadas geneticamente para cada função.
Olhou com uma expressão de espanto.
- É só assistir os desenhos, ok? O que tem a ver Alquimia e Formigueiros?
- As formigas se mantém organizadas. Complexamente organizadas. Elas tem um sistema de sinalização e comunicação para se orientarem, mas isso não dá para explicar esse nível de organização. Tem que haver algumas coisa a mais.
A menina não desgrudava os olhos.
- Tem que haver uma forma invisível de organização. Como um centro. Como um maestro invisível dizendo quando e como cada peça tem que se encaixar e cada folha vai ser guardada. Eu chamo essa ordem invisível de Bob.
- Como é que é?
- Na falta de outro nome, eu chamo essa ordem de Bob. Bob está sempre lá organizando tudo.
- Estou ouvindo.
- Imagine que Bob pode ser uma ordem que faz as células de seu corpo funcionarem. Como no caso do formigueiro, cada célula é programada geneticamente para desempenhar as sua funções, uma faz uma enzima, a outra absorve água, a outra percebe a cor vermelha.
Assentiu.
- Imagina que a célula doente sai do controle de Bob. Tudo vira uma bagunça. Bob chama a polícia, as células brancas, programadas geneticamente para colocar ordem na casa. Era disso que eu queria te falar: para tratar essas doenças, é preciso fazer a orquestra funcionar de novo. É importante fazer a energia circular de novo. Era isso que os Alquimistas faziam.
- Quê?
- Os alquimistas faziam a energia circular na matéria. A energia que estava parada.
- (Deu um pulo na cadeira). Peraí, peraí...O que isso tem a ver com o Bob?
Sorriu, triunfante.
- Agora você está começando a entender. A sua mãe tem uma filha muito esperta.
- Obrigada. Eu acho...
- Os alquimistas tentavam, mesmo sem perceber, fazer contato com o Bob. Fazendo contato com o Bob, poderiam achar a Pedra e curar as doenças.
- Não estou entendendo nada.
- Calma, eu explico: a doença acontece quando Bob não consegue mais organizar o formigueiro, digo, as células. Elas param de se entender e um grupo de bagunceiras saem pelo corpo comendo tudo e destruindo tudo.
- Esse é o Câncer.
- Isso. Os tratamentos tentam dar um pau nessas bagunceiras para que o corpo consiga se reorganizar e controlar a bagunça.
- O tratamento serve para dar um tempo para Bob reassumir o controle.
- Exatamente.
- Esse é um trabalho alquímico?
- Caramba. Você entendeu perfeitamente.
- E o tal do Bob é invisível.
- O tal do Bob é invisível.
- Sendo invisível, ninguém acredita nele.
- Muita gente não acredita nele.
- Estou começando a entender por que te deixaram fora do curso.
(Risos).

Um comentário:

  1. O ano de 2011 foi um total compendio alquimico em minha vida...

    O BOB nao conseguiu manter o tal equilibrio fundamental para a VIDA de minha Maezinha e ela foi acometida por um cancer de mama com metastase nos linfonodos axilares...

    E claro, como o meu caminho tem me ofertado com aprendizados megalomaniacos, o que me esperava nao poderia ser diferente !

    No ano de 2011 enfrentamos juntos um dos tratamento mais agressivos que existem na medicina atual, com cirurgia gigantesca acompanhada por sessoes de quimio e radio totalmente destrutivas e avassaladoras!

    E como nao bastasse todo este sofrimento, porque nao completar este ciclo de dor com a MORTE de meu Paizinho, devido a uma fratuta idiota de sua tibia ??!!!!! bem no ultimo dia de quimio e antes de iniciar as sessoes de radio de sua esposa ...

    Entao............bora organizar este formigueiro !!! boraaaa !!!!!!!!






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