quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Jung Para Crianças: o Opus e a Cura

A velha senhora começou a juntar as suas coisas.
- O que foi?
- (Guardando o seu material numa pasta) Acho que está na hora dessa senhora fora de moda ir embora.
- O que?
- (Olhou para a menina, com uma ternura um pouco tristonha) Acho que já te contei muitas histórias e está na hora de você voltar a brincar com suas amiguinhas e está na hora de eu tomar o meu chazinho da tarde com meu gato, Edward.
- (Risos) Como é o nome do teu gato?
- Edward (Risos). É um velho senhor, muito respeitável e que sempre me parece estar usando um cachecol xadrez, com um ar assim, meio britânico, meio escocês... É um gato realmente muito distinto e educado.
- Eu gostaria muito de tomar um chá com Edward.
Olhou para ela com uma cara de “É mesmo?”. E voltou a arrumar as suas coisas.
- Não sei se a sua mãe gostaria de saber que você está tomando chá com uma velhinha gordinha e um gato gordão. Ainda mais ouvindo essas ideias antigas e meio chatas.
Olhou para ela com aquele ar de menina sabida.
- Só que você não pode ir embora assim desse jeito.
- Ah, é? E por que eu não poderia?
- Porque você prometeu dar a sua aula para mim.
- (Coçando a cabeça) E como eu vou dar essa aula para você, garota?
- Do mesmo jeito que já está dando.
Balançou a cabeça.
- Vamos deixar para outro dia, ok?
- (Cruzou os braços, com ar de menina esperta) Você sabe muito bem que não vai haver outro dia.
- (Suspirou) Minha querida, eu já sou velhinha, eu sei. Sempre tem um outro dia.
Pegou uma parte de suas anotações.
- Fala sobre isso aqui.
- Isso aqui o que?
- Isso aqui que está escrito.
Finalmente, ela sorriu e parou de tentar se esquivar.
- Você não quer que eu vá embora, não é, peste?
Fez uma cara de “Por favor”.
A senhora olhou para a anotação. Fez uma careta, como se fosse particularmente difícil ensinar aquilo para uma menina que devia estar com suas bonecas.
- Como é que eu vou falar disso, menina?
- Não sei, se vira.
Olhou boquiaberta.
- É isso que meu pai me fala quando eu não consigo fazer a lição.
- Diga para o seu pai que isso não é muito educado.
- Eu digo.
- Bem, vou me virar. Esse papel é sobre A Obra (falou desse jeito mesmo, em maiúsculas).
- (A menina imitou seu ar solene) A Obra.
- Exato. A Obra. O Opus.
- E o que é isso?
- Essa é a grande questão, mocinha. A Obra é tudo o que você quer trazer, do mundo do Invisível, para o mundo do Visível. Por exemplo...
- A Cura.
Olhou, com espanto.
- Como é?
- Eu sempre te surpreendo, não é mesmo? (Fez uma pose) É porque eu sou uma menina tão esperta...
- (Arrumou-se na cadeira e falou suavemente) E uma vez que você é uma menina tããoo esperta, vou aproveitar esse exemplo, que é realmente muito bom. A Cura pode ser uma obra alquímica. Um sonho que você quer realizar, uma coisa que quer fazer, tudo isso é uma Obra. Pelo menos, é uma pequena Obra.
- Achar a cura quando alguém está doente é uma Obra.
Voltou-se para a menina, séria.
- Você conhece alguém que precise dessa Cura, meu bem?
- Todo dia, meu benzão. A minha mãe é médica, ela fala com gente doente o tempo todo. Mas ela não acha que a cura é uma Obra.
- O que ela acha?
- Ela acha que a Cura se baseia em protocolos clínicos, fortemente baseados em evidências.
Fez muita força para conter o riso.
- E onde você ouviu isso, menina?
- Eu ouço isso o tempo todo. Pode acreditar.
- E ainda assim você quer aprender sobre Cura?
- Claro que eu quero.
Sentou de novo na cadeira.
- Ok. Você venceu. Batata frita.
- O que?
- Nada não. É uma música antiga.

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