quinta-feira, 11 de julho de 2013

Altro Estima

Sempre achei que a frase de Jesus, para amar o próximo como a si mesmo, fosse uma via de duas mãos. A sua capacidade de ser amoroso com o Outro é diretamente proporcional à sua capacidade de amar a si mesmo, como um próximo.
Não é comum, entretanto, nem gostar de si nem muito menos olhar no espelho e encontrar alguém com quem se queira alguma proximidade. Olhamos os sinais da idade e do tempo avançando, os quilos ganhos nas férias e depois de mais alguns anos tememos o que se vai encontrar no espelho. Compaixão e delicadeza não deveriam ser exercícios praticados apenas com o Outro, ou o Necessitado, ou o menos afortunado, como ensinam as vozes carolas e os guias do Politicamente Correto. Delicadeza e compaixão consigo deveria ser a primeira lição de casa. E vem com um pacote de benefícios para o Outro, sobretudo o de deixar de conviver com alguém falsamente bondoso, mas que fica esperando o tempo todo que uma fanfarra de anjos celebre a sua bondade, ou, no caso, a sua falsa bondade.
A tal da autoestima não é mandar beijocas para a sua imagem no espelho, nem se presentear com cervejas e caixas de bombons, nem marcar um jantar em um lugar bacana consigo mesmo. Autoestima é diretamente proporcional à sua Altro Estima, inclusive a capacidade de se tratar a si próprio como outro. E tratar esse outro, que sou eu mesmo, significa ter uma relação de respeito, delicadeza e compaixão atuante sobre a própria vida e o próprio ser. Essa é a condição inicial para podermos exercitar essas mesmas qualidades com os que nos cercam, ou os que estão longe.
A tal da autoestima proposta nos programas de variedades ensinam, de uma forma direta ou indireta, como inflar o próprio ego positiva ou negativamente. Pode parecer estranho, mas qualquer um pode parar e imaginar quantas pessoas conhecemos que glorificam o próprio Ego sendo as piores, mais fracassadas e mais infelizes pessoas do mundo. Socar o próprio peito gritando “mea culpa”, ou mais recente “eu sou uma bosta” produzem o mesmo resultado de gritar a plenos pulmões um “eu me amo”: ficar andando em círculos de afetos condicionais e autorreferentes, em vez de praticar, todo dia, algum tipo de delicadeza com nossos quilinhos a mais, nossa preguiça quase diária ou a ida para a Academia que foi enforcada mais uma semana. Emagrecimento e mudança de hábitos estão sempre condenadas ao fracasso se dependerem apenas da tal “força de vontade”. A força de vontade dura uns cinco dias ou o próximo churrasco, o que vier antes. Mudanças de hábitos alimentares ou de qualquer hábito, sobretudo os maus hábitos, dependem de mudança de consciência, inclusive da consciência do que é amar, o que é comer e que tipo de exercício queremos, ou não, fazer, física e mentalmente.
Imagino que seja isso. Autoestima começa e termina na capacidade de seu autoconhecimento e de relacionamento. Isso vale para o Sujeito e para o Outro. A delicadeza é para as duas mãos do “Amar o Próximo como a Si mesmo”.

3 comentários:

  1. DR., primeiro post seu que não tem título ! Estranho.

    Gostei e pratico isso "amar o próximo", mas a gente toma muito tombo em ser "bonzinho".
    As vezes precisamos chutar o balde e pensar no "EU mesmo".
    Volte logo, tenho novidades, coisas boas e preocupações pra te contar...

    Boas férias !

    Edison

    ResponderExcluir