sábado, 20 de julho de 2013

Too Much Mind

Peço desculpas aos fiéis leitores dessas mal tecladas. Depois de minhas férias, tive uma semana daquelas e o resultado é um grande tempo sem posts nesse blog, que está ficando um pouco bissexto. Depois de mais de trezentos textos, ainda há muito o que se falar, embora às vezes bata uma preguiça ou fantasias de encerrar essa tribuna virtual. A maioria dos blogs morrem assim na blogosfera, ouvi numa entrevista no rádio. Vamos continuar alimentando este aqui, que teve e tem lá seus momentos melhores e piores, como tudo nessa vida.
Nesta semana bem bombada fui convidado a dar uma entrevista sobre uma pauta bem difícil: a necessidade, ou não, que temos que provar as coisas para as pessoas, para o Outro. Bola quadrada para psiquiatras: não há nenhum quadro clínico ou falha de neurotransmissão para discutir. Bola quadradérrima para psicoterapeutas: como tirar um protocolo de ação para essa questão? Sem mencionar o sotaque de Autoajuda, o que queima definitivamente o filme de qualquer um. Dá para viver sem querer provar nada para ninguém, como cantava Renato Russo? Somos testados todo dia e avaliados por pares, clientes, chefes, afetos e desafetos. Dr House zelava muito pela sua capacidade de se lixar para o que pensam dele. Isso valeu boas risadas aos expectadores da série, e socos, tiros, prisões e perseguições ao personagem principal, que realmente não era bom candidato a Mr Simpatia.
Vou citar nessa entrevista, se ela ocorrer, uma cena que eu gosto muito de um filme, que já devo ter citado em algum desses trezentos e muitos posts: é uma cena com um ator limitado, Tom Cruise, no filme melosão-que-eu-adoro “O Último Samurai”. Para quem não lembra, o filme conta a história de um coronel do exército americano, alcoólatra e traumatizado com as atrocidades de guerra, que é contratado para treinar o exército japonês. O objetivo era combater os samurais, obstáculos à modernização do Japão. O personagem de Tom Cruise cai prisioneiro dos samurais e passa um inverno nas montanhas geladas, aprendendo sua visão da vida e curando suas feridas. A cena a que eu me refiro é uma em que ele está treinando com um samurai que não vai muito com a sua cara. Simulam uma luta de espada com porretes longos. O americano leva um tremendo e inevitável cacete do japa. Quanto mais se esforça, mais acaba no chão, comendo uma humilhação empoeirada. Um jovem samurai se aproxima e observa qual é o seu problema: “Too much mind” Como assim? Você pensa demais, cara pálida. Pensa na técnica correta, na raiva do adversário, no medo de levar mais porrada, e sobretudo, se preocupa com os olhos risonhos de quem está assistindo. Ele entende rápido, como acontece no cinema, e já equilibra a luta com o samurai que fez aquilo a sua vida toda. Mas o princípio vale, e responde uma questão dessa entrevista: a questão não é ter ou não que provar algo para alguém. A questão é o peso que carregamos por esses infinitos pares de olhos que ficam nos olhando, pelo menos em nosso Imaginário. O que vão falar de mim? Como vão me julgar?
Uma prova de maturidade é estabelecer uma convicção sobre o que somos, tornando a opinião alheia menos importante com o tempo. Como no caso do aprendiz de samurai, sair do “too much mind” e prestar atenção a cada momento, a cada tarefa, esquecendo temporariamente desses pares de olhos que nos espreitam e suas vozes abafadas. Ter que provar alguma coisa, ou não, faz parte de nossas vidas. Todas as vidas. Mas o único jeito de manejar a espada com liberdade é se descolar das infinitas opiniões alheias. Mais uma vez, é mais fácil falar do que fazer.

2 comentários:

  1. Mestre, sobre encerrar o blog pense 300 vezes, pois toda segunda-feira alguns amigos e "entendidos" estão aqui a espera e lendo seus textos.
    Alguns difíceis pra mim, mas a grande maioria trazendo novidades e conhecimento.

    Não pare não !

    Abraços.

    Edison

    ResponderExcluir
  2. sobre encerrar o blog, não pense. "too much mind"...

    bj;

    D.

    ResponderExcluir