segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Adeus Também Foi Feito pra se Cuidar

Um assunto importante em qualquer consultório de Psiquiatria e Psicologia é a separação. Muitas caixas de lenços de papel são consumidas no processo, ou nos processos de separação. Fico me perguntando se não deveria haver uma espécie de cuidado que um casal poderia ter com ele. Normalmente, as separações não são consensuais. Algumas, a minoria, terminam em tragédia. Sempre há o parceiro (a) que toma a iniciativa e o outro (a), renitente, que faz de tudo para evitar que a relação termine. Uma vez atendi um homem que me pediu, meio embargado, para ser submetido a um Exame Psíquico completo para decidir se estava mentalmente são para decidir pelo divórcio. A mulher o manteve anos dizendo que queria sair da relação porque era imaturo, neurótico, fixado na mãe ou com qualquer problema edípico para querer ir embora. Deixou de aventar apenas uma pequena mas importante hipótese: a de que ele não a amava mais. O homem quase pediu um Atestado de Sanidade para poder arrumar as malas e ir para a casa da mãe, o que seria entendido como mais um sintoma de fixação edípica. Reassegurei que estava em condições psíquicas para tomar a sua decisão qualquer que fosse. Ele saiu pálido de alívio pela minha porta e nunca mais voltou. A esposa deve tê-lo conduzido a outro Psiquiatra, imagino.
Uma das coisas que eu me pergunto é se não poderia haver alguma etiqueta ou acordo de bom comportamento durante uma separação. Até judeus e palestinos tem métodos de negociação e de construção de quase acordos. Isso não ocorre entre casais. Uma coisa particularmente incômoda é quando um dos parceiros declara que não quer mais, quer terminar tudo. O outro, ou a outra, pede, implora por uma nova chance. Reconhece os erros e tenta se transformar em uma semana em tudo que deixou de ser no decorrer dos anos. O parceiro, ou parceira, renitente tenta de tudo, o outro se fecha em copas. Este pedaço é particularmente difícil. Uma pessoa tenta, de toda forma, retomar contato, saber o que está acontecendo, se agarrando nos cabelos, nos pelos, no pijama, nos seus pés, como nos versos atrozes do Chico. O outro fica em silêncio. Esse é o ponto. Este silêncio. Temendo magoar ainda mais a pessoa ferida ou, mais provavelmente, temendo alguma nova cena, o desespero de um lado encontra o silêncio do outro. Eu fico me perguntando, sabendo que não há resposta para a pergunta: será que não dava para cuidar um pouco do outro, ou da outra, que está sendo abandonado (a)? Que requinte de crueldade, deixar o trabalho de elaboração para o outro, sem ajudar em nada, sem colocar com clareza o argumento mais irrespondível, que é: Estou indo embora porque não amo mais, não quero mais ficar. Fica aquela linguagem cifrada, aquele “não é você, sou eu” que acrescenta mais um abandono ao abandonado (a), que é o abandono do silêncio ou da desculpa esfarrapada. Em outras palavras: será que daria para cuidar da pessoa que está sofrendo, tomar essa responsabilidade? Por enquanto, não. A nova modalidade é despejar a pessoa no consultório do terapeuta ou do psiquiatra, quase com a plaquinha: “Fique com ele, ou com ela, doutor, que estou saindo fora”. Como deixar um beagle na porta do Instituto Royal.

2 comentários:

  1. "Não há caminho, medidas curativas durante essa experiência... quem sobrevive a uma separação de longo tempo de união perderá o chão em que pisa. Mesmo com o passar do tempo não esquecemos o que acabou. Queremos respostas a tantas perguntas neste momento de término, e sabemos intimamente que não suportaríamos conhecer as "explicações" e razões por melhor que fossem explicadas de forma cuidadosa. Tais respostas a essas perguntas seriam como um incêndio impulsionado com mais gasolina. Não suportaríamos os ferimentos. Será que que podemos falar de Amor quando isso acontece? É nosso apego ao amor? É a falta de amor em nós? Uma explicação do por quê seria o suficiente para nos fazer aceitar, entender e seguir nossa vida? A razão em nós pouco ou quase nada pode fazer quando isso bate em nossa porta... nossa alma é quem melhor pode tentar oferecer uma resposta e precisaremos ter muita humildade para ouvir o que ela tem para nos dizer e oferecer."

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  2. Perfeito, Mestre !

    "Eu não te amo mais" ou "não gosto mais de você" praticamente liquida o assunto, é um direito de qualquer um se não está feliz.

    Mas que é difícil dizer e escutar, ah isso é !

    Edison

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