domingo, 12 de dezembro de 2010

Vivendo e Aprendendo a Jogar

Antes de mais nada, gostaria de me desculpar com meus poucos e fiéis leitores pela semana de silêncio. O final de ano costuma ser difícil para psiquiatras. Assim que as primeiras imagens de Papai Noel e de famílias risonhas em torno de Panettones Bauducco ou perús Sadia começam a bater nas telas de nossas TVs,e as pessoas começam a enlouquecer, tentando resolver tudo até o dia 15, para depois começarem os lutos de Natais da aurora de nossas vidas, que o tempo não volta mais. Mas não é sobre o Natal que vou falar. Não hoje. O fato é que os posts vão ficar mais raros nessa época, mas espero não bater nenhum recorde negativo de postagens em Dezembro.
Estava respondendo um e-mail há pouco, falando justamente sobre um tema recorrente em Natais e finais de ano: expectativas frustradas. Parece que uma dimensão do drama humano deriva quase sempre dessas expectativas. Uma medida obbjetiva da maturidade de uma pessoa é justamente a capacidade de dimensionar as expectativas dentro do Real e tolerar a frustração quando as mesmas não dão certo. Isso parece muito chato e é mesmo. Durante meus anos como psiquiatra e psicoterapeuta lembro de ter deixado muitos poucos casos. Eu saí de um caso de uma moça que se agarrava com todas as forças ao próprio sofrimento. Dizia que não faria nada para melhorar a própria vida, já que Deus era o grande culpado por sua dor. Ele a colocara numa família disfuncional, Ele colocara homens desprovidos de afeto e de humanidade em sua vida, portanto, Ele tinha feito a sujeira, deveria também fazer a faxina. Algumas vezes em terapia, o terapeuta sair do caso é a única manobra que resta para a pessoas notar o que ela mesmo está falando ou fazendo. Não tenho muita esperança que essa moça tenha recebido, diretamente dos céus, um homem maravilhoso que finalmente redimiu a sua infância difícil e a sua vida solitária. Conheço muito pouco a respeito de Deus, mas imagino que, se jogamos poquer com ele, a nossa aposta Sempre vem antes. Ficar esperando que a Graça venha antes de nossa aposta, é sempre uma bobagem. Apostamos muito, perdemos outras tantas vezes, para viver e aprender a jogar, como dizia a música antiga.
Eu estava teclando exatamente sobre isso no e-mail: como é difícil dar alguns sonhos como perdidos e seguir em frente. Como é difícil agradecer pelo o que já fizemos e temos, em vez de lamentar nas ceias de fim de ano o que não conseguimos fazer. Devemos sacrificar todos os sonhos? Como viver, então? Mas abrir mão, em alguns momentos, nos deixa numa suave e profunda leveza. Quem sabe?

Um comentário: