domingo, 18 de agosto de 2013

Eros,Ágape e Cáritas

Estava zapeando como sempre os programas da TV por assinatura, quando me deparei com um programa chamado “Decifrando Milagres”. Adoro dar uma olhada nesse tipo de programa, além dos documentários sobre avistamento de discos voadores ou mistérios das pirâmides. No programa, havia uma completa mistura de alhos com bugalhos, pois mostrava uma médium curadora argentina, Giras da Esquerda de Candomblé, em São Paulo e uma imagem de menino Jesus que é objeto de culto no México. Não sei se o objetivo era mostrar os exóticos latinos e suas crendices, mas acabei parando a zapeagem e vendo o programa. A parte que me encantou foi sobre a mística argentina, Martha Rosenberg. Essa senhora loira e um pouco emperuada, disse ter recebido a visita de Jesus, que lhe avisou que, a partir daquele momento, ela teria o Dom da Cura. Apareceram no dorso de suas mãos e pés os Stigmata, as feridas de Jesus após a sua crucificação. Acho que foi a maneira de Jesus demonstrar que não estava brincando. Uma imagem de Jesus que trouxe para a sua parede começou a verter sangue. Ela pensou que o visitante estava de brincadeira, pois além de não acreditar em nada daquilo, ela é judia, como é que falaria em nome de Jesus? Mas o visitante não pareceu se impressionar com aquilo. O documentário mostra as sessões com Martha num bairro simples de Buenos Aires. Há uma consagração e oração, depois filas de pessoas que a abraçam longamente e trocam palavras amorosas. Algumas relatam as curas e as mudanças de evolução de suas doenças com a médium argentina, que os espíritas classificariam como médium ouvinte, pois recebe as instruções de seus guias através de vozes assoprando em seu ouvido.
Ela passou a comer e beber muito pouco, dormir menos ainda, desde que passou a ser instrumento desse dom. E o sangue sai caprichosamente de seus estigmas de quando em quando. É lógico que a equipe do programa foi entrevistar o seu psiquiatra, para saber que papo é esse de vozes assoprando coisas. A própria Martha foi procurá-lo para saber se aquilo tudo não era um surto esquizofrênico e se não estava precisando, mesmo, era de uma internação. O médico ficou gaguejando diante das câmeras para afirmar que a senhora não era Esquizofrênica e que as suas vivências místicas não estavam no escopo da Ciência. Pelo menos isso. Outros colegas diriam que ela é uma Bipolar, em Hipomania, com um quadro delirante místico e de grandeza. Um médico de Pronto Socorro colheu exames de suas feridas para constatar que aquilo era sangue mesmo (não me diga) e levantar a hipótese que as mesmas eram feitas pela senhora. O que dá para ver com as imagens é que as feridas são redondas, de bordas delimitadas e profundas, às vezes em carne viva, outras vezes porejando sangue. Para aquilo ser uma fraude ela precisaria de um uma equipe de fraudadores e de uma deficiência de coagulação, o que não é impossível, mas estranho. Ninguém conseguiria entender aqueles fenômenos sem colocar em Martha a pecha de farsante ou maluca. O que as pessoas que recebem seu abraço descrevem é uma incrível energia amorosa que se desprende dela, gerando algumas curas. Martha continua afim de se livrar da tarefa e do fardo, mas continua, como aquelas coisas que continuamos a fazer a despeito de seu desconforto, só porque sabemos necessárias.
Felizmente eu não fui entrevistado e infelizmente, não sou o psiquiatra de Martha (acho que essa gripe que me afeta há cinco dias já estaria bem melhor nesse caso). Os místicos cristãos dividem em três tipos o Amor que podemos sentir: Eros, o mais popular, Ágape e Cáritas. Sobre Eros já falei bastante nesse blog. Ágape e Cáritas é que são elas. Ágape é um amor que ultrapassa o prazer de Eros. É o amor incondicional de um pai por seu filho, o amor de alguém que esquece de si em função da entrega para o outro. Uma tipo de Amor muito raro em nossa geração autoestima. Mais raro é o Amor que flui dos abraços de Martha ou das palavras das pessoas que estabelecem o contato com essa frequência, que chamamos de místicos, ou de mistificadores. Cáritas é a energia amorosa absoluta, que tira o sono e a fome de Martha. Se isso é uma doença psiquiátrica, eu bem que gostaria de tê-la. Desde São Paulo no caminho de Damasco que ouvimos histórias de pessoas comuns que tem o encontro de nosso Ego comum com a Grande Personalidade, ou outro centro de consciência, que vai passar a emanar essa energia amorosa. Isso é loucura? Loucura é viver só às custas de nossa Mente Racional, achando que ela basta para entender a vida.

2 comentários:

  1. Linda conclusão!!!
    abços,
    Lúcia Andrade

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  2. Sensacional, cara! Vim ao seu blog a procura de Eros e Caritas para estudo de um texto. Muito bom! Obrigado!

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