quarta-feira, 7 de agosto de 2013

O "Mestre"

Lamento pelos poucos e bons leitores desse blog, mas vou ter que falar sobre um filme desagradável. Isso torna o post particularmente inútil, entre outros posts inúteis, como aqueles em que eu me dedico a atacar o presidente (?) do São Paulo, Juvenal Juvêncio. Escrever sobre um filme desagradável é convidar o leitor a evitar o mesmo. Mesmo assim, vou escrever sobre ele e sugiro ao leitor que evite esse texto. É o máximo que posso fazer.
O filme é “O Mestre”, que valeu ao bom Joaquin Phoenix a indicação para o Oscar de 2013 de Melhor Ator. Joaquin faz um personagem tão absolutamente repulsivo que era de se esperar que não levasse a estatueta. O filme se passa nos anos 50, após a Segunda Guerra, onde Charlie lutou com japoneses no Pacífico. Ele é um marinheiro que volta ao seu país e passa a ter um comportamento estranho, com episódios de agressividade imotivada, chegando a tentar trabalhar como fotógrafo, mas ataca sem motivo um cliente. Vai trabalhar em plantações de algodão e tenta envenenar um lavrador, novamente sem motivo nenhum. O ator compõe um personagem sempre crispado, a postura encurvada, o rosto com uma máscara de tensão e caretas. O psiquiatra que vos fala já ia diagnosticando algo do espectro da Esquizofrenia, mas o filme segue e nada confirma, ou exclui, a hipótese. Quando o estranho personagem abandona o campo e passa a vagar sem destino, entregue cada vez mais ao abuso alcoólico, ele encontra o sujeito que dá título ao filme, o tal “Mestre”. O Mestre é o líder de uma espécie de seita, também dado a excessos alcoólicos, entre outros hábitos repulsivos. Esse “Mestre” toma o marinheiro perdido como seu protegido e passa a fazer sessões de “Processamento”, que consistem em fazer trabalho de levantamento de traumas, incestos e violências que Charlie teria sofrido ou perpretado. Ele vai entrando e fazendo parte daquele grupo, com adoração e adesão total ao seu líder. Quem o critica ou questiona é prontamente espancado por Charlie (como a torcida uniformizada que vem ameaçando fisicamente os opositores de Juvenal Juvêncio). Tudo parece caminhar para um desfecho trágico, até Charlie aproveitar um dos experimentos do “Mestre” para sumir no mundo. O que vai acontecer depois eu não vou dizer, para não estragar o filme que alguém queira assistir, mesmo alertados que é um filme desagradável.
O filme provavelmente é um relato de algum dissidente da Cientologia de L Ron Hubbard. As técnicas de processamento que o líder usa com o perturbado seguidor, foram e são, praticados pelos membros dessa seita, e visam desatar os nós de traumas passados e libertar seus seguidores de suas aberrações, ou neuroses, medos, traumas para poderem se expressar como seres espirituais e libertos de suas amarras psíquicas e físicas. O retrato do “Mestre” é crú, de um homem vaidoso,dado a explosões inesperadas e bebedeiras incontroláveis. Ele é sempre acompanhado por uma filha fanática e incestuosa, que representa o fabuloso aparato que se revestiu esse movimento nas últimas décadas, sempre tentando transformar o tal “Mestre” em um Semideus que não pode ser contrariado, ou questionado, em nenhuma hipótese.
O leitor deve estar se perguntando, assim como este escriba, qual a necessidade de escrever esse texto, já que ele não recomenda o filme nem vai conseguir mudar a sinuca de bico em que se meteu a diretoria do São Paulo. Acho que o filme muito me impressionou pela potência das cutucadas que os caras dão nos membros dessa seita. Mexer com o Inconsciente das pessoas demanda um cuidado e um respeito absolutos, além de conhecimento de causa. Hoje as pessoas “processam” traumas e mexem nos Inconscientes alheios em Vivências Corporativas, Constelações, Regressões e Workshops de final de semana. Os resultados nem sempre são bons.
Penso que esse filme mostra o nascimento da Cientologia e o germe do que um processo que quase destruiu o personagem principal do filme e outras tantas pessoas, inclusive o “Mestre”, que morreu só em seu rancho, tomando remédios para sua Paranóia progressiva. Escrevo esse texto para lembrar a quem se aventura nesses caminhos e feridas psíquicas para fazê-lo com cuidado e orientação. E, finalmente, sempre, sempre, desconfiar de quem se acha um “Mestre” absoluto, inquestionável. Morrer é parar de fazer perguntas.

Um comentário:

  1. Muito legal o texto!
    Acho que todos nós, já tivemos esta experiência de sincronicidade.
    bjos,
    Lúcia Andrade

    ResponderExcluir