Uma característica de nossa Consciência que a Ciência reproduz é a capacidade de simplesmente ignorar tudo aquilo que não entendemos ou não podemos explicar. Vou dar em exemplo óbvio: as curas expontâneas, ou ditas expontâneas. Um conhecido me descreveu emocionado a consulta de seu pai com a sua Oncologista, a mesma que meses atrás comunicara o diagnóstico de um Câncer Pulmonar inoperável que teria um péssimo prognóstico. Tecnicamente falando, o tratamento não deveria ter um bom resultado e poderia tanto prolongar quanto encurtar a vida de seu pai. O homem reagiu da maneira estranha, pois sempre foi uma espécie de polo transmissor de negatividade e pessimismo. Diante da morte próxima, afirmou entre dentes que não iria se entregar e que se recusava em acreditar naquele diagnóstico/veredicto. Meses depois, a médica dizia com a voz tremida de emoção que o Tumor tinha regredido completamente, contrariando todas as estatísticas. Foram atrás da biópsia, para checar se aquele tumor era aquele mesmo. Era. O homem chorou como quando recebeu a notícia pela primeira vez. Desta vez ele sussurrou: "Eu sabia". No dia seguinte já estava entregue à sua chatice habitual. E o seu caso deve ter ido para as estatísticas como de "Ótima Resposta"à quimioterapia.
Durante esses anos de prática clínica, não é a primeira vez que ouço uma história assim. Esses relatos criam um espectro moralista de que o "Pensamento Positivo"pode curar todas as doenças. O seu contraponto é a ideia que as pessoas morrem de Câncer porque não conseguem modificar os seus "Pensamentos Negativos". Isso se soma à já inconsciente culpabilização que muita gente tem de ter a sensação de ter "fabricado"a própria doença. Nos anos 90 eu participei de uma pesquisa em Oncologia, em uma Enfermaria de Transplante de Medula Óssea que tinha essa pergunta: havia mesmo uma relação mensurável entre o estresse recente e a doença oncológica? Haveria mais gente deprimida e "negativa"nesta enfermaria do que nas outras? O que encontrei naquela pesquisa foi uma amostra de mais da metade dos pacientes avaliados de pessoas sem traços patológicos de personalidade, gente boa, legal e de bem com a vida que um belo dia tropeçaram no diagnóstico de uma Leucemia. Na outra metade da amostra dava para recuperar trauma nos últimos anos, como perda de entes queridos ou demissão/perda de status profissional. Havia também uma alta incidência de quadros depressivos antecedendo a doença oncológica. O que ficou muito claro já naquele estudo mas que ainda hoje está longe de ser um consenso é que a atitude diante da doença parecia se correlacionar claramente com a resposta ao tratamento. Sobretudo essas pessoas que prometem para si mesmas que não vão ceder e não vão morrer daquela bosta de doença. As estatísticas que se danem. Uma atitude iconoclástica em relação a essa religião fundamentalista que são as estatísticas e as evidências: os médicos ficam emocionados e envergonhados com essas curas inexplicáveis. Para a Ciência, os casos vão para as gavetas empoeiradas das "Curas Expontâneas". Ou seja, aquelas que não tem explicação, então elas simplesmente não existem, ou o establishment médico se recusa a dar muita atenção. Já pensou se a moda pega? Os bilhões de prejuízo?
Vou arriscar alguns critérios para essas curas "milagrosas", a saber:
1 Antes de mais nada, aceitar a realidade de que se tem uma doença, ela é grave e vai demandar todo o cuidado e atenção possível. Negar ou fingir que não está acontecendo não costuma ajudar muito;
2 Ter uma atitude de enfrentamento, mas não de uma guerra. Guerrear não costuma trazer bons resultados. Aquilo que está lá é uma parte de nosso corpo, uma parte da vida, criada pelo Mistério inerente à ela. É importante lidar com a doença e se recusar terminantemente a entregar a rapadura, mas com tranquilidade;
3 Essa é a parte difícil, a mais de todas: aceitar que a morte faz parte do acordo, ela pode ser o final do tratamento, aliás, costuma ser o final de nossa vida biológica e pode ser o desfecho da doença grave. Aceito, mas não concordo, este é o babado;
4 Há um campo de energia na resposta à doença e ao tratamento que aparece durante a jornada que ajuda na busca da cura, que deve sempre ser considerada. Essa é a tal da "Energia Positiva"que deve ser considerada. Tem a ver com a sensação de que o corpo sempre quer se curar e para isso precisa de harmonia energética, não de terrorismo;
Isto quer dizer que o processo é uma corrida de fundo, não de velocidade. A virtude está na resistência, não na pressa.
Posto isso, quando a cura vier, curve-se diante dela e agradeça.
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Mais uma vez você tem razão. Fico puta quando me chamam de "guerreira" por ter dado conta de um cancer de mama ano passado sem ter pitis ou chiliques. Fiz o que tinha que fazer. O modo de enfrentar, com uma certa tranquilidade, realmente me ajudou muito (além dos 13 anos de terapia que fiz com você). E posso garantir, não foi uma guerra. Mandava pro inferno quem enchia meu saco, mas isso não define uma "guerreira". Detesto rótulos.
ResponderExcluirBeijo, meu querido,
Cris V.