sábado, 5 de fevereiro de 2011

Tite e o Colapso.

Quando moleque, meu pai me levava passar as férias em Lambari, uma pequena e simpática cidade no Sul de Minas, no Circuito das Águas. Era dessas cidades que todos se conhecem, que tinha um time de futebol valente e com nome pomposo, o Águas Virtuosas. Um belo dia eu fui treinar com a molecada do Águas. Eu era um gordinho bom de bola, sabia armar bem o jogo, dava lá as minhas trivelas. Lá pelas tantas, um penalti para o meu time. Ouve-se um clamor: bate o Paulista. Vai, Paulista. Eu ajeito a bola e o gol foi ficando cada vez menor. Bati com o lado de dentro do pé, a bola pegou efeito para fora do gol, foi longe. Risadas e sadismo dos moleques com o mauricinho de Kichute novo e meias da mesma cor. O paulista não joga nada. Acabou o treino para mim, assim como a minha carreira. Hoje o psiquiatra entende melhor aquele momento e isso tem a ver com a eliminação do Corinthians na Libertadores, diante de um time pior do que a maioria dos times do Campeonato Paulista. Um time pior que o Mirassol, com todo respeito ao Mirassol. O que aconteceu?
Temos em nosso Cérebro uma região do Sistema Límbico que faz a mediação do medo. O medo é muito importante para a sobrevivência. Num aquário, os peixinhos valentes são os primeiros a virar lanche se houver um peixe carnívoro. O medo nos deixa mais cuidadosos. No caso do penalti perdido, as minhas pernas ficaram pesadas, a respiração curta, a decisão de como bater na bola foi desastrada. Parecia o time do Corinthians: as pernas pesadas, os passes errados, o Gordo parecendo mais gordo. Uma delícia. As outras torcidas receberam o jogo como um presente de começo de ano.
Tite, o técnico do Timão, teve o seu carro depredado e seu nome citado em pichações, com adjetivos não muito elogiosos. A culpa é do Gordo e do técnico, essa é a lógica da torcida. No caso do técnico, posso dar o meu pitaco. Tite é um bom treinador, sério e honesto. Mas é daqueles técnicos que deviam treinar um time alemão. Tite tem sempre teorias para tudo, é pior que os psiquiatras. Já imagino o seu grupo, dormindo nas preleções. Tite fala difícil. Não sei como o presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, o contratou. Não deve entender nada do que ele fala. Bem, deve ter feito a contratação por isso. Se fala difícil é porque é inteligente.
Vou dar um conselho, tranquilo, pois tenho certeza que não vai chegar ao seu destino: quando o time está fragilizado, com as pernas travadas, congelado e no começo da temporada, procure pela simplicidade. Nada de exaltação gaúcha à macheza ou a responsabilidade. Faça muitos rachões, muitas peladas, recupere a alegria pueril de se jogar bola. Arrume a defesa, dê leveza aos ao jogo, deixe as pessoas próximas dentro e fora do campo. O Cérebro que brinca é o contrário do Cérebro do Medo.

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