sábado, 29 de janeiro de 2011

Parecia que não ía acontecer com a gente

Estava atendendo outro dia uma sequência de pacientes que reclamava do esfriamento do casamento, da ausência de romantismo, da rotina seca do dia a dia de uma família. Nelson Rodrigues tinha uma dessas frases definitivas para o assunto, dizendo que construir o amor nada tem a ver com Felicidade. Aliás, não tem nada que encha mais o consultório dos terapeutas do que a idéia da Felicidade, ou, melhor dizendo, a Idealização do que deveria ser a tal da Felicidade. O fato é que construir o Amor é tarefa das mais árduas e isso vai roubando energia do casal, esmagado entre os filhos e as respectivas carreiras.
Temos uma mitologia cinematográfica que mostra todas as idas e vindas dos encontros amorosos. Carrie, do Sex and the City, demorou umas oito temporadas para finalmente casar com seu eterno quase namorado, por ela apelidado de Mr Big. O casamento em si, o amor conjugal, isso já deixa o espaço dos romances açucarados e vai sempre para o campo das comédias, sempre explorando as frustrações e os desencontros dos casais. Não há em nossa cultura um espaço para o cultivo da vida a dois. Lembro de uma matéria horrível na Revista da Folha sobre casais que conseguiam priorizar a relação a dois, às custas da exclusão dos filhos. Na capa havia um casal sorridente e a filha, em segundo plano, olhando com cara de choro. Trbalhamos com sistemas de exclusão: ou o casal, ou os filhos. Sempre os sistemas binários. Uma música dos Titãs dizia "A gente quer inteiro, não pela metade". A gente quer inteiro, quer felicidade profissional, pessoal,sexual, conjugal e familiar. Pode-se acrescentar à lista o que o leitor(a) preferir. Fácil? Não. Mas não temos a cultura de cultivar o inteiro, não a metade. Como esses clientes, vamos acomodando situações mais e mais frustrantes, distâncias ressentidas e silêncios perigosos. Homens que não aguentam mais "Discutir a Relação". Mulheres que não aguentam mais tentar conversar com uma porta disfarçada de marido. Ou talvez o pior, a idéia de que "é assim mesmo". Vamos aprofundar esse tema nos próximos posts.

2 comentários:

  1. Obrigada por compartilhar.

    Estava precisando entender mais essa ausência quase que obrigatória do romantismo no dia a dia da vida.

    Abs.
    NSari

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  2. Dr. Marco.

    Adorei!!!!

    Vc conseguiu colocar muito bem em palavras algumas questões do nosso dia a dia...

    Brigada

    Bjs

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