quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Futebol e Tragédia

Acho que a presidenta do Flamengo, a ex nadadora Patrícia Amorim é um pouco pé frio. Ao assumir o Flamengo no ano passado logo se deparou com a história escabrosa do goleiro Bruno, que tirou o seu clube da página de esportes para deixá-lo como presença cativa nas páginas policiais. Ontem, depois de uma novela e de um espetáculo de malcaratismo nunca dantes visto, finalmente Ronaldinho Gaúcho acertou com o Flamengo e discursou na arquibancada repleta de rubros negros desocupados: "Agora eu sou Mengão!" disse o quase ex jogador Ronaldinho com a voz empostada de rapper carioca. Já dava para tomar litros de Plasil só com essa declaração de amor regado a milhões de reais dos patrocinadores. Patrícia Amorim se esgoelava: "Ronaldinho é nosso!". Wagner Love pulava para as câmeras (Wagner Love? O que fazia lá o Wagner Love?). Na sociedade do espetáculo, qualquer ocasião para se pendurar em frente ao olhar fatigado do público de consumidores deve ser aproveitado. Nas manchetes de hoje, o jornal desloca a festa boboca do Flamengo para um canto de página. Em destaque, a tragédia pavorosa da região serrana do Rio de Janeiro, o número recorde de mortos, as autoridades (?) atarantadas tentando organizar o socorro, as pessoas correndo das águas e da morte em meio aos corpos boiando. Tudo isso aconteceu algumas poucas horas depois da festa.
Longe de mim o moralismo da classe média diante das cifras para se ter o Ronaldinho em seu time. Como o seu xará do Corinthians, Ronaldinho vive da reprise de suas jogadas na época em que ele jogava bola, até 2005. Depois ele virou um espectro, uma sombra de um dos maiores malabaristas que já jogaram no Barcelona. Ronaldinho vende camisas e esperança para torcedores que esperam um lampejo do gênio que já foi. O seu irmão, Assis, ele mesmo craque de bola em seus tempos, mas ainda mais craque para espremer a laranja de seu irmão em níveis nunca dantes vistos, sorria de satisfação diante de páginas e páginas do Twitter onde ele é comparado a Judas, para citar a comparação mais branda.
Ficamos envregonhados diante das encostas desabadas, a sensação de impotência em ajudar nossos irmãos que sofrem pela fúria da natureza. Ronaldinho não teve nada a ver com essa tragédia, é claro. Mas a sua apresentação farsesca vai ficar associada a essas imagens. É o custo de se viver dessas imagens que povoam nosso imaginário empobrecido. Cinquenta milhões de reais para ter Ronaldinho penteando a bola na intermediária, sem explosão muscular para chegar na área. E nem um centavo do Governo Federal para a prevenção de desastres naturais. Tudo com um gosto amargo de reprise.

Nenhum comentário:

Postar um comentário