sábado, 1 de janeiro de 2011

Juntando os Pontos

O outro título deste post seria: "A Individuação segundo Steve Jobs". Vou explicar por que.
Acho abominável essa proliferação de mensagens edificantes que recebemos em nossas Caixas de Entrada de emails. Chegam mesmo a serem piores que as piadas e as correntes de denúncia e de alarmes falsos. Um colega me enviou um e-mail histérico dizendo que as vacinas contra a Gripe A tinham toxinas terríveis e tal e coisa. Receber aquilo de um paranóico de carteirinha, tudo bem. Tem um tiozinho no supermercado da minha esquina que está sempre cheio de teorias de conspiração: o que o governo faz com os dados da Nota Fiscal Paulista, os roubos da Mega Sena e os venenos que colocam nos remédios e na TV. OK. Eu sempre dou corda para ouvir as suas teorias. Mas um médico repassar um alerta desses, pelo amor de Deus, nem sendo ortopedista. Pois há uns dois anos recebi um link de um vídeo, com um discurso de Steve Jobs numa formatura de Stanford, onde ele foi patrono, mesmo sem ter concluído nenhum curso superior em sua vida. Acho que eu o assisti ums cinco vezes e pior, o repassei para um monte de gente que não tomou conhecimento da indicação. Finalmente, entrei no grupo dos repassadores de mensagens edificantes de "Lições de Vida".
Como costuma acontecer com as apresentações de Steve Jobs, ele limitou-se a contar três pequenas histórias a respeito de sua vida. Nessas pequenas historietas ele enunciou coisas muito caras ao pensamento Junguiano, por isso o subtítulo:"Steve Jobs e a Individuação". Mas não vou falar de individuação nesse post, só do princípio da Sincronicidade, que está na primeira historinha do Sr Jobs: tudo começa em seu nascimento, quando a sua mãe biológica resolve dar aquele bebê para adoção, já que precisava terminar a sua Pós Graduação. Como estudar era uma coisa muito importante para ela (espero que ainda seja, porque ela deu para adoção o que viria a ser um dos homens mais ricos e bem sucedidos do planeta), a moça exigiu que o bebê fosse adotado por um casal de escolaridade Superior. Por um capricho da vida, o bebê caiu nas mãos de um casal humilde de trabalhadores sem Nível Superior de escolaridade, que entretanto prometeram que fariam de tudo para pagar a faculdade daquele menino. Juntaram dinheiro a vida toda e com sacrifício mandaram o adolescente Steve para uma faculdade cara. Ele detestou a faculdade (uma vingança contra a sua mãe biológica?), acabando por abandonar os seus estudos. Ficou à toa no campus por alguns meses, dormindo no chão do alojamento e aproveitando o dinheiro já gasto para fazer os cursos que lhe desse na telha. Matriculou-se num curso de Caligrafia. Ora vejam. Jogando o dinheiro suado de seus pais para fazer cursos bizarros. Ele adorou o curso. Era histórico, artístico, estimulante. Alguns anos depois, quando começou a projetar o computador pessoal da Apple, o Mac Intosh, adivinha quem projetou todos os caracteres, todas as letras e tipos do Mac? Como a Microsoft copiou esses caracteres, então os tipos que eu estou digitando e você leitor está lendo saíram de algumas forma do curso de Caligrafia do jovem Steve Jobs. Ele conclui essa primeira short story dizendo que esse tipo de coisa a gente não percebe quando está acontecendo, só depois de alguns anos. Só a passagem do tempo pode nos dar a capacidade de "juntar os pontos" e ver a mão de tecedeira da vida construindo nosso caminhos e descaminhos.
Steve Jobs recomenda que sejamos intuitivos, que estejamos abertos às infinitas possibilidades de cada situação e que juntemos os pontos depois, para percebermos essa mão invisível ajudando a escrever nossa história, mesmo que certo, mas com linhas muito tortas. Isso parece muito simples de formular, mas se pensarmos com calma, acreditar nisso é acreditar numa Inteligência intrínseca à vida, criando coincidências que nos apontam um caminho. Tem gente que chama isso de Deus. Os junguianos, como esse que vos tecla, chamam de SELF. Um bom ano a todos. Cheio de coincidências.

Um comentário: