domingo, 23 de janeiro de 2011

Crises e Jornadas

Um ofício que realmente me dá inveja é o de vidente, cartomante ou diversos tipos de aconselhamento que graçam pelo mercado. Lembro aos leitores que sou junguiano, então está muito longe de mim esse nariz torto de cientista fazendo pouco caso dos fenômenos psíquicos paranormais, vidência incluída. Não estou falando de gente séria e com capacidades notáveis de percepção, que já vi mudarem muitas vidas. Estou falando de uma indútria de palpiteiras que se utilizam de cartas, búzios e bolas de cristal para fazer previsões e sugestões que realmente podem causar estrago. O último filme de Woody Allen, que eu não recomendo, "Você vai conhecer o homem da sua vida" tem uma personagem central, uma senhorinha cuja vida é literalmente dirigida por uma dessas palpiteiras intuitivas que sempre vão dizer para a consulente do homem maravilhoso que vai entrar na sua vida.A simpática e roliça senhora acaba conhecendo um homem e mudando a sua vida, numa dessas ironias Allenianas, não antes de deixar completamente louca a sua filha e genro.O roteiro é conhecido: no futuro todas as mazelas e desencontros serão redimidos e as peças, finalmente vão todas se encaixar: dinheiro, sucesso, felicidade, tudo isso a cinquenta reais a hora.
Para determinados tipos de consulta, o roteiro se estende e se aprofunda: quando uma querida e desesperada obsessiva amorosa vai pedir ajuda para conseguir finalmente uma relação estável com o homem amado, sempre vai haver uma ex namorada ou um ex namorado que fez um trabalho, impedindo que os pombinhos encontrem seu happy ending. Lógico que o trabalho pode ser desfeito, por uns dois mil reais e algumas oferendas às divindades iradas. Longe de mim o desrespeito à essas crenças, mas não é bom espetáculo ver a pessoa que sempre professou outra religião cuspindo farofa sem entender o ritual.
Há alguns anos eu publiquei um e-book no site de um amigo, que falava na crise como jornada de transformação. Havia uma personagem, a Vovó, que contava para a neta algumas historinhas com uma visão arquetípica, de Forrest Gump a Branca de Neve. Se o leitor tiver curiosidade, pode entrar no site que eu não atualizo há noventa anos, o www.marcospinelli.com.br para ver alguns textos da Vovó. Tem dias que eu tenho vontade de tirar a velhinha do baú e fazê-la conversar com as netinhas sobre seus problemas amorosos.Nos textos antigos, a Vovó falava de um momento que sempre inicia uma jornada de transformação: o momento do Erro Fundamental, termo que eu pequei emprestado de uma grande autora, Jean Houston. Vou falar sobre isso nos próximos posts, mas o erro fundamental é o evento, catastrófico ou não, que faz a nossa vida mudar para sempre. É como o caçador apontando a faca para Branca de Neve, obrigando-a a entrar na floresta escura e começar a sua própria jornada. Acho que as videntes de fundo de quintal tem uma particular capacidade de pegar esse momento do erro fundamental e mostrar que, a partir de daquele ponto, tudo mudou para pior. Um namorado magoado, a perda de um emprego, uma doença. Responsabilizar a bruxa, ou o bruxo malvado pelo ocorrido é fácil. Difícil é o ofício do terapeuta, que vai apontar a ferida e comunicar ao cliente que a ferida é de sua inteira responsabilidade. Ficar procurando ou elegendo culpados só vai aumentar o sofrimento de todos. Mas é sempre mais fácil imaginar que as coisas não dão certo por conta de um trabalho de uma ex enlouquecida. Difícil é tentar entender as linhas tortas onde a vida tenta escrever certo. E refazer o caminho quando pegamos mais um atalho errado.

Um comentário:

  1. A realidade nua e crua é a seguinte : " somos 100% responsáveis por nossas escolhas"... no momento que vc compreender que vc tem o livre arbítrio de escolher e que vc utiliza disso o tempo todo vc vai parar de culpar os outros por suas escolhas.Se algo não vai bem, vc tem duas alternativas: escolher diferente ou se manter nesta situação até que pelo sofrimento vc consiga aprender algo. A felicidade é estado de espírito proporcionado por nós mesmos..... ela não está fora de nós......A.M.

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