sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Biocampo e Autorganização

Fui convidado recentemente a escrever um capítulo em um livro de Psiconcologia, por um bom amigo que é o editor. Ele quer uma abordagem simbólica do processo, do diagnóstico à cura, ou à uma meta antiga da Oncologia, transformar a doença oncológica em doença crônica. O Vice de Lula, José Alencar, é um exemplo vivo desse processo de luta e de equilíbrio entre o doente e a doença. Confesso que ainda estou pensando nessa empreitada. Quando eu fazia parte de um grupo de trabalho no Instituto de Psiquiatria do HC muito me impressionava o desenho do logo desse grupo, que era um homem todo fragmentado em vários pedaços. A intenção do logo era mostrar que tentávamos juntar aqueles pedaços todos, mas a impressão que passava era oposta a isso. Parece que iríamos dividir o homem em pedaços cada vez menores, até não termos mais como juntar os pedacinhos nem sabermos de que parte estávamos tratando. A visão mecanicista é uma realidade. Segundo ela, o corpo é uma máquina multicelular e multissistêmica, quando uma parte funciona mal, devemos consertá-la. As visões alternativas são até toleradas, mas não são levadas a sério. Só como exemplo, a cura pode ser extirpar o mal, suprimir os sintomas, caçar as células inimigas onde estiverem escondidas. Outras visões de Medicina pensam em harmonizar os multissistemas, reforças as defesas naturais de nosso organismo, devolver a esses sistemas o funcionamento harmônico. Isso é pensar em um biocampo autorganizador, e em como podemos fazer para ativá-lo ou trazê-lo de volta ao equilíbrio. Implica em pensar em um Corpo Simbólico, que atua em paralelo ou em constante interpenetração com nosso corpo físico e mental.
Os budistas insistem muito que uma das nossas piores ilusões, geradora de sofrimento, é a ilusão da separatividade. Desde o Gênesis que fazemos parte de uma civilização que se sente apartada da criação e da natureza. É por isso que a metáfora da guerra não é a melhor para se tratar uma doença, qualquer que seja. Pensar, à moda da Medicina Oriental, em temos de Organização/Desorganização, Desequilíbrio/Reequilíbrio pode nos dar uma perpectiva melhor do Biocampo e da capacidade de autocura e autorganização de nosso corpo e psique. Colocar essas idéias no livro de uma forma acessível e baseada em evidências, aí é que são elas.

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