sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Bunny

Uma das coisas que me embrulham no pouco que sei das redes sociais são o compartilhar público de vivências privadas. Casamentos, noivados, namoros, lutos, alegrias, tudo disponibilizado para você dar nota, curtir ou descurtir. Quando morre um gatinho de uma celebridade é uma enxurrada de mensagens e de pieguice, uma espécie de rede de apoio de afeto de rápido consumo.
Agora estava revendo o meu post sobre a minha cachorrinha, Bunny, que foi colocado no blog em Novembro de 2011. Na época ela estava com um tumor crescendo atrás de seu olho, a gente tentava contê-lo com medicação, com medo de colocar na mesa uma cachorra grande, boxer, já entrada em anos. Ontem Bunny morreu nos meus braços, provavelmente pela complicação do tratamento que tentávamos dar para protegê-la. Ela não estava bem desde a Terça feira e foi sendo levada para a clínica veterinária. Ontem era um dia que tirei para viajar, Bunny como que esperou esse dia para se despedir, dando-me a honra de estar presente, podendo agradecer por tudo que ela deu para mim e para minha família.
Tem uma passagem que eu gosto muito de um filme: "Patch Adams". Para quem não sabe, o filme é sobre a história, verídica, de um homem que descobriu dentro de uma internação psiquiátrica a sua verdadeira vocação, a de mexer com as pessoas, a despertar nas mesmas uma fagulha de alegria, uma explosão de felicidade. os Doutores da Alegria são seguidores desse homem, brincando e fazendo palhaçadas nos frios corredores dos hospitais. Patch Adams idealizou uma clínica onde todos fossem curadores, mesmo os doentes, ajudando com a alimentação, os curativos e a atenção que doentes, por vezes terminais, precisam. Ele quase foi impedido de se formar como médico por conta de sua irreverência e indisciplina, mas também pela ousadia de fundar essa clínica. Interrogado, alguém observou: "Mas as pessoas podem morrer nessa clínica", ao que ele respondeu: "Mas qual o problema da pessoas morrerem na clínica? Morrer não tem nada demais. Difícil é morrer sem nenhum cuidado humano".
Vivemos numa época que tem horror e culpabiliza a morte. Foi o cigarro, ele não seguiu a dieta, não fez exercícios, faltou na aula de Pilates. O morto é sempre o culpado de ter morrido. Ou a culpa foi do médico, da equipe, do Sistema de Saúde. Não há dúvida que muitas vezes ocorrem falhas, descuidos, com resultados trágicos. Mas eu concordo com Patch Adams: morrer não tem nada de estranho, é um evento que ocorre em todas as formas de vida.
Não foram poucas as vezes que atendi pessoas com depressão desencadeada pela perda de um bicho de estimação. Felizmente, encontraram um médico pronto a entender a profundidade desse amor. Sou muito grato à minha mulher que me ensinou, como ninguém, a amar profundamente os bichos que temos aqui em casa. Não houve nenhum dia, nesses quase oito anos que tivemos a Bunny, que eu não tenha começado o dia fazendo cafuné e ouvindo o ronco de prazer que ela emitia com os carinhos. Eu abria a porta da casa pela manhã, para ela começar o seu dia de "trabalho", fiscalizando o território e a colocava para dentro á noite, para roncar no corredor.
No outro post, citei um conceito budista, do Boddichitta, amor universal por todos os seres sencientes. Bunny era o coração do Boddichitta. E vai continuar sendo.

2 comentários:

  1. Lamento muito pela morte da sua cachorrinha.
    Mas tenho certeza que ela deve ter tido uma vida muito feliz ao lado de você e de sua família!
    Lúcia Andrade

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  2. Luto...
    Momento difícil, doloroso.
    Gosto de mandar luz para aqueles que se foram.Luz para Bunny.
    E para aqueles que ficaram; para toda a família.

    Abraços
    Sonia

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