quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Sobre Príncipes e Prozac

Hoje em dia não há mais as mitologias transmitidas envolta das fogueiras. Não há mais os anciãos contando as epopéias. A nossa vida continua carente de mitologias, que nos são impostas pela mídia e pelo cinema. Ainda me lembro de meu filho com uma pá de brinquedo, ou uma espada nas costas cantando “Eu vou, eu vou, para casa agora eu vou...” dos sete anões, imitando a fita VHS de clássicos Disney, com dublagem bem anos quarenta. Era emocionante porque a Branca de Neve da Disney atravessou as gerações, da avó até os netos, o vestidinho retrô da Branca de Neve é um ícone cultural que todos conseguem identificar, setenta anos depois. O problema é que a idéia do Príncipe que coroa, literalmente, toda a jornada da heroína vira um imprinting poderosos nas redes neurais das meninas. Isso geralmente vai terminar nos divãs ou nos prozacs, pois há uma escassez de príncipes no mercado. Não há nem muitos anões acolhedores quando a floresta fica muito escura.
Somos de uma época de literalidades. As músicas agora são repetidas nas rádios por décadas, pois lançar um novo álbum virou uma raridade para todos os artistas. Ouço há quase uma década o Akon cantando (?) : “I wanna fuck you...”. As meninas continuam esperando pelo romance, os meninos cantam romanticamente, eu quero te f... Haja terapia.
O pior dessa mitologia imposta pelas comédias românticas é a sensação de isolamento e exclusão de quem não encontra o príncipe nem o plebeu no final da jornada. Engraçado como temos tantas mídias sociais para impor às pessoas a sensação profunda de solidão. Talvez exista um sentimento ainda pior que o da solidão, que é o da exclusão. Parece para os rapazes, que há um festim de liberdade sexual e de mulheres prontas a servirem os homens, que aparecem nos vídeos pornôs, todos com a mesma sequência de atividades que eu não vou citar aqui, mas que mostram mulheres proporcionando prazer sem nenhuma reciprocidade de seus parceiros. Para as moças, há uma profusão de homens atenciosos, fortes e companheiros que abandonam a sua vida sem sentido para serem “felizes para sempre” com a sua amada.
Não há sentimento mais profundo, numa depressão, do que a sensação de estar fora da experiência humana. A sensação de desconexão com a vida. Vivendo no mundo do Certo e do Errado, necessariamente temos um sistema de exclusão dos “inaptos”, que já começa no quarto ano primário. O trabalho com a depressão é de trazer os excluídos para dentro de novo da experiência humana. Os medicamentos são uma parte desse processo, mas na verdade apenas um instrumento de reconstrução do Sentido para quem a busca perdeu o sentido.

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