sábado, 28 de janeiro de 2012

A face verdadeira

Hoje recebi mais um spam de livrarias Psi (que já me localizaram), com o seu novo lançamento: "Por que sofremos tanto?". O Budismo repsonde essa questão há dois mil e seiscentos anos, mas continuamos reescrevendo as respostas. A Bíblia também fala bastante sobre o assunto. Somos seres expulsos do Paraíso, maculados pelo Pecado Original, o que ainda é ensinado em algumas escolas americanas como conhecimento estabelecido e verdade. Somos filhos de um erro de uma dupla de seres, Adão e Eva, que caíram na conversa da Serpente.
Não há pecado em nascer. Mas há a dor de nascer. Consciência, do latim Cum Ciencia (desculpem se a grafia estiver errada) descreve a capacidade de experimentar culpa pelos nossos atos e, portanto, assumir a responsabilidade sobre eles. Se a hipótese que estão levantando para a tragédia do Rio de Janeiro, de que os prédios vieram abaixo, matando estimadas trinta pessoas, por reformas que comprometeram a estrutura de sustentação, reformas feitas de forma irresponsável e sem a supervisão de um engenheiro, se provar correta, será que alguém vai bater no peito e falar, fui eu, eu sou o assassino? O capitão do navio italiano, que mudou a rota, bateu nos recifes, afundou o navio e se empirulitou deixando velhos e deficientes se afogando nos escombros, será que ele vai declarar, em tempo real- Sim, fui eu? Eu errei, eu matei aquela gente, eu sou o responsável?
Uma das coisas que o estudo da mente humana pode desencadear, nesse século e meio de estudo sistemático, é que somos todos inimputáveis. Todos queriam um pônei, ou uma Caloi Dez, mas o papai não deu. Todos sofremos abusos, verbais ou físicos, em nossa trajetória. Uma mocinha que foi condenada depois de enforcar o amante com a própria cinta no Motel, ficava dando um dedo para a imprensa (numa medida pouco estudada, recomenda-se uma melhor "media training"no próximo julgamento), foi defendida com a alegação de abuso sexual por parte de seu pai. Quando o amante mais velho e trintão ameaçou abandoná-la, ela se lembrou do pai abusador e enforcou o amante, abalando as estruturas de nossos casamentos burgueses. Coitadinha, sofreu abusos, por isso fez o que fez. Quer dizer que nossa feridas nos absolvem de tudo? Mas estou me desviando da Consciência.
Adão e Eva já haviam descoberto, ter Consciência dói. A separação do estado de pureza original é definitiva, e dolorosa. A infância vai perdendo o seu olhar de ingenuidade e crença para entrarmos progressivamente no jogo selvagem da sobrevivência. A Metapsicologia Freudiana já afirmava, há mais de um século: a perda dessa unidade original é dolorosa. É uma expulsão do Paraíso. Quanto mais brusca, menos cuidada, mais violenta essa separação, maior a dor que essa consciência em formação vai experimentar. Por isso que Sidarta Gautama, o Buda, descobriu debaixo da árvore Bodhi que a natureza essencial da vida é o sofrimento.
A nossa tarefa na vida, é a transformação dessa dor original. O caminho régio, de todas as psicologias que se prezam, é fazer o sujeito identificar, reconhecer e enfrentar a própria dor, para depois compreendê-la e transformá-la. Muita gente desiste muito antes de chegar na própria ferida. outros procuram saltar por cima da ferida com algum livro de autoajuda ou alguma droga anestésica. Mas, dizia Nelson Rodriguea, o homem só se salva se encarar a própria hediondez.

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