sábado, 29 de dezembro de 2012

A Jornada de Pi

Ontem fui ver “As Aventuras de Pi”, aproveitando a cidade vazia nessa época. É uma experiência sensorial, um parque temático em forma de cinema. Nem sou tão fã de filmes 3D, mas não consigo imaginar esse filme sem a projeção em tela gigante e 3D.
Nessa época do ano, é muito comum pensarmos o que queremos para nosso próximo ano, o que vai continuar, do que vamos desistir, o que vale a pena insistir ou deixar no caminho. A narrativa do filme é toda em flash back, então sabemos que Piscine, autoalcunhado de Pi, sobreviveu à jornada que se inicia num naufrágio. Durante semanas, ele vai vagar no Oceano Pacífico dividindo um bote com um tigre de Bengala chamado Richard Parker. Pi vai passar por todo tipo de dificuldade e tem todas as oportunidades de se deixar morrer, ou de se entregar para o tigre ou o mar. O filme, que é baseado em um livro que eu espero que lancem por aqui lembra em muito o bíblico Livro de Jó. Pi é um Jó moderno, que não se queixa nem amaldiçoa a própria vida ou o seu destino. Pacientemente, ele tenta extrair de tudo aprendizado para manter-se vivo, manter-se são na sua jornada à deriva.
Pi é cristão, muçulmano, hinduísta. O diálogo que ele tem no mar é com a experiência de Deus e o valor intrínseco da vida. Não é uma coisa que se prove cientificamente. Pi não vai sobreviver para salvar seu patrimônio genético e passá-lo a seus filhos. Nem é o seu instinto de sobrevivência que vai prevalecer. Pi vai enfrentar a mais profunda solidão simplesmente porque é isso que a sua alma demanda, é isso que que o mantém inteiro nessa jornada.
Eu tenho um ofício em que o valor da vida, ou da jornada, é questionada todo dia. Para que estamos nesse planeta estranho? Para que aguentar os rigores da caminhada? Qual o significado de tanta luta? Como na peça de Shakespeare, é uma sinfonia de som e fúria, que não significa nada?
A vida de um médico permite que ele testemunhe o que há de melhor (e pior) na natureza humana. Histórias de resiliência incrível, paciência e aprendizado. A jornada de Pi é uma metáfora da vida humana, em que sobrevive e cresce quem é capaz de aprender e valorizar o aprendizado. Mas o difícil mesmo é encontrar o valor intrínseco da vida e agradecer por ele. É isso que Pi vai encontrar debaixo de um céu muito estrelado.

Um comentário:

  1. Doctor, o filme é fantástico, as imagens são incríveis.
    Mas o Pi conseguiu encontrar aquilo que todos procuramos: o valor da vida e que vale viver.

    Grande 2013.

    Edison

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