domingo, 30 de dezembro de 2012

Borges, Amigo Imaginário

Amanhã vou escrever o último post do ano, repetindo o último de 2011. Vou colocar o texto de um velho mestre e amigo imaginário, Jorge Luís Borges. O meus filhos quando ganharam algum senso crítico perceberam a índole solitária e introvertida de seu pai e criaram para mim um amigo imaginário, chamado Bob. Quando sentávamos na padoca, depois de atravessarmos a intransponível Raposo Tavares, eles puxavam uma cadeira para o Bob e ofereciam um pedaço de pão na chapa. Se eu fosse consultado, chamaria meu amigo imaginário de Borges, ou de Campbell, ou de Nelson Rodrigues. Meus “amigos” tem algo em comum: passaram a sua infância e adolescência mais ou menos na mesma época, tinham, sobretudo Borges e Nelson, uma imensa fragilidade física e uma timidez insuportável que os obrigava a uma vida solitária e no meio dos livros. Eu não era tão fisicamente frágil, mas era um moleque míope e quase sempre enfiado nos livros. Todos eles construíram obras gigantescas em relação a seu meio cultural pouco privilegiado: Campbell no estudo da Mitologia e Religiões comparadas; Borges na Literatura e Nelson no teatro.
Borges construiu e eu diria que inventou a literatura argentina. Hoje assistimos a filmes argentinos produzidos com baixo orçamento que são mais reflexivos e literários que os brasileiros. Acho que é uma herança evidente de Borges, mas sou suspeito para falar. O texto que vou republicar amanhã, "Fragmentos de Um Evangelho Apócrifo", é uma reflexão devastadora sobre o que seria hoje uma leitura moderna do Sermão da Montanha, do Novo Testamento. Só para dar água na boca, vou fazer um paralelo. Onde está no Novo Testamento a frase: “Bem aventurados os que choram, pois serão consolados”, Borges escreve no aforisma 4: “Desventurado o que chora, porque já tem o hábito miserável do pranto”. Chorar é uma coisa séria, não deve ser uma defesa e muito menos um ato de autopiedade, a droga mais usada no planeta. E por aí vai o texto, amanhã publico na íntegra.
Depois desses posts vou dar umas férias para esse blog e seus bravos 9 seguidores. Não vou parar de escrever em Janeiro, mas não vai ser nessa forma de ensaio/crônica que ele tem apresentado. Vou escrever aqueles diálogos, ou metadiálogos, que são bom método para se produzir conhecimento e reflexão desde os tempos Socráticos. O tema, que pode ser mudado a qualquer momento, será a princípio um “Jung para Crianças”, o que não será puro Jung nem será para crianças, mas os meus leitores já estão se acostumando com essas esquisitices.
De qualquer forma, agradeço muito os page views, os comentários, o incentivo e as questões que eu procurei responder de forma não direta no decorrer dos posts. Esse é o post de número 335 ou 336, e esse blog continua sem temática específica e sem a definição de um público específico, o que, nesses tempos de hipersegmentação, é uma tragédia de marketing e uma delícia de se escrever. Obrigado a quem teve paciência de saborear essa salada.

5 comentários:

  1. É um privilégio ler tudo que vc escreve, tão generosamente simples e profundo. Depois de ler o seu post ontem, não resisti e vi hoje Aventuras de Pi. Que beleza terminar um ano, ainda que de forma protocolar, com tamanha mensagem de esperança e sabedoria. Foi uma experiência "divina". Obrigada, mestre (não fique bravo!), e até o último post do ano. Beijos, Priscila.

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  2. Olá Spinelli,

    Foi maravilhoso ler seus posts! Eles me trouxeram muita reflexão! Você escreve muito bem(deveria publicar estes posts!).

    Desejo a você e a sua família que 2013 seja cheio de muita Luz, Paz e Sabedoria!

    Aí vai um poema do Fernando Pessoa para você:
    "Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos"

    bjos a você e ao Bob!
    Lúcia

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  3. Marco,
    Por que o Sermão da Montanha by Borges começa no 3 ?!
    Ficarei muito grata se puder dizer.
    beijo

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  4. Eu imagino, cara anônima, que Borges estava brincando com a idéia que esse Evangelho teria sido encontrado aos Fragmentos, mesmo. Se vc notar, alguns números também "saltam", dando a noção de descontinuidade. Os números "ausentes" dão a impressão de que estarão para sempre perdidos no silêncio e no esquecimento, dois temas muito caros a Borges. Eu, de minha parte, imagino que os números ausentes devam ser completados por mim e por vc, os leitores. Um Bom Ano para vc.

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  5. Gostei de ser chamada assim... De cara anônima...
    Se vc pode ser o Borges, eu poderia ter um pseudônimo tbém...que tal ?!
    Acho que Jorge Luis combina com Julia Maria.
    E assim como o evanjelho foi achado aos fragmentos...
    A vida trouxe voçe

    Beijo

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