domingo, 23 de dezembro de 2012

Amen

Ontem estava no velório de um tio querido, pensando em coisas esquisitas.( As pessoas que me encontram na rua pensam sempre que eu sou metido, muito provavelmente porque esteja pensando em coisas esquisitas e não olhe muito para os lados). Entre uma receita de picanha na panela de pressão e algumas histórias engraçadas e ternas que lembrávamos daquele ente querido, muito querido, que agora era um invólucro de proteínas, minerais e água sem o sopro misterioso da vida no meio da sala, eu ainda pensava em coisas estranhas, como cura à distância e Medicina Chinesa. Coisas que é bom que não se espalhem além do grupo que passa os olhos por esse blog. Eu não acredito no mundo causal de que falava o pastor antes de fecharmos o caixão. Não acredito que o clamor da oração estendeu a vida de meu tio. Eu mesmo vibrei muito, mentalizei muito e o que pude ver foi uma pilha se apagando, apesar do interesse e esforço da equipe que o atendia. A Medicina Chinesa acredita que temos um quantum de energia vital. Algumas pessoas gastam mais, outra menos, essa energia. Quando ela acaba, a vida acaba. A moderna Medicina fala do encurtamento dos Telômeros, o que é um conceito muito parecido, estranhamente parecido, com a intuição dos chineses. Enquanto nosso DNA tem essas pontas, os Telômeros, bons e funcionantes, somos mais saudáveis e longevos. Nosso tempo fica nesse tiquetaque da duração das pontas de DNA. A vida perde a capacidade de se proteger e multiplicar e acaba, simplesmente. Não acho que o clamor das orações tenha interferido, quando a Velha Senhora, a Morte, agarrou meu tio e não quis mais largá-lo. O amor, o investimento, o cuidado prolongou a sua luta, mas foi como se a pilha estivesse acabando, coisa que eu senti desde o início de sua doença.
Mas se eu não acredito no num mundo causalista, no que acredito? Acredito, como o filósofo francês Deleuze, em mundo de quase - causas. Acredito na Oração Intercessora e na intervenção médica bem planejada e embasada. Acredito que o Mistério não responde à nossa vontade, mas pode ser movimentado por ela, pois a nossa Consciência é Co-criadora do mundo. Podemos participar dessas quase- causas, mas não podemos interromper a gigantesca roda dos acontecimentos.
O Natal é uma época que celebra a renovação da vida, na forma de uma Criança Divina que nasce de uma Concepção Imaculada. É a vida em sua forma mais pura, se refazendo em meio à sinfonia de som e fúria que é o mundo. Esse arquétipo da Vida anda muito próximo da Morte, talvez por isso a gente ouça tanto falar da Velha Senhora nessa época. Depois do enterro, fui comprar presentes de Natal, pois a Vida e a Morte são irmãs e andam sempre de mãos dadas.

3 comentários:

  1. Quanta poesia, doutor! Viva o divino, o mistério, a energia vital e a capacidade de renovação! Que venha 2013! Um grande abraço, Priscila

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  2. Feliz 2013 Spinelli...belissiomo post.
    Eu tb penso coisas esquisitas...abs

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