sábado, 4 de maio de 2013

AutoEmbaço

De vez em quando eu me meto a ler os livros hoje um pouco fora de moda de Carlos Castañeda. As suas experiências psíquicas psicodélicas com um feiticeiro e xamã foram uma verdadeira febre nos anos sessenta e setenta, época da geração hippie e da contracultura. Hoje eles não são tão conhecidos e sempre que vou falar sobre algum ensinamento do mago Don Juan para o seu protegido, Carlos, em alguma consulta, tenho que fazer um longo preâmbulo para explicar a sua história. Como estou fazendo agora, aliás. Mas não vou me estender em seus ensinamentos. Vou falar de um conceito apenas. Don Juan tentava ensinar o seu pupilo, um antropólogo argentino radicado nos Estados Unidos e encharcado de nossa cultura materialista, a “Cessar o Diálogo Interior”para entrar em um estado mental apropriado para explorar outras formas de consciência. Gostaria de ver o velho bruxo em nossos consultórios, tentando ensinar as pessoas a diminuir esse verdadeiro palavrório interno que nunca parece cessar.
Estava acompanhando um trabalho que mostra o efeito devastador desse “Self-talk”, que eu traduziria como blábláblá interno que produz sintomas e pior, destrói vidas. É como um livro da autoajuda às avessas. Um livro de autoembaço. Tinha vontade de escrever um livro de autoembaço, que iria se chamar “Os Sete Hábitos das Pessoas Altamente Infelizes”. Difícil seria selecionar apenas sete, mas seria um assunto para discutir com meu editor, preferencialmente quando tiver um. Mas um dos hábitos criadores de infelicidade na certa seria a Automaldição. Querem um exemplo? Fácil. “Estou consciente que nunca vou emagrecer”; “Os homens são todos assim”; “Pobre não tem sorte”; “A culpa é do meu marido”; “Eu nasci para ser sozinha”. A lista é interminável.
O fracasso é um cobertor curto, mas protetor. Se o fracasso puder ser projetado numa causa externa a nossa vida, melhor ainda. Eu chamo de cabides de infelicidade. Maridos e esposas são cabides quase perfeitos. Basta pendurar toda a infelicidade no Outro: “O meu marido me impediu de trabalhar”; “A minha mulher gasta todo o dinheiro no shopping”. Além do diálogo interior obsessivo, temos a recriminação circular do outro ou de nós mesmos como uma modalidade eficaz de se atingir a infelicidade. Não sei por que se consumir tanta literatura, tantas comédias romântica s sobre a busca da felicidade se gastamos tanto tempo e tanto diálogo interior para o aperfeiçoamento da infelicidade.
Uma coisa que é difícil de se ensinar e, sobretudo, de aprender, é que a responsabilidade por nossas escolhas e desencontros é pessoal e intransferível. Henry Ford disse que se você pensa que consegue, ou que não consegue, provavelmente está certo em ambos os casos. Ele nunca escreveu livro de autoajuda.

Um comentário:

  1. Perfeito! No momento em que nos observarmos, percebemos que somos 100% responsáveis por nossas escolhas! A.M.

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