quarta-feira, 1 de maio de 2013

Francesco e o Coração de Fogo

Há uma infinidade de pequenas historietas a respeito da vida de São Francisco, um dos santos mais populares da Igreja após um quase um milênio de sua passagem por este planeta esquisito. Numa delas, estava em suas peregrinações com seu grupo de seguidores, pousando em algum lugar muito frio com suas túnicas e sandálias, e fizeram uma pequena fogueira, que, em algum momento, ficou fora de controle e precisou ser controlada, ou apagada, pelos filhos de Francesco. O santo, por sua vez, ficou muito amuado e criticou os seus amigos por terem incomodado o “Irmão Fogo”. Alguns anos depois, o Irmão Fogo retribuiu a sua preocupação, em um momento bastante dramático. Francesco estava perto de sua morte, com múltiplas infecções, uma delas uma conjuntivite purulenta que acabou por cegá-lo. O único tratamento disponível era a cauterização com ferro quente, tratamento aliás que continuou em voga por muitos séculos, até a descoberta dos antibióticos. Francesco pediu ao Irmão Fogo para ser gentil e ele foi. O procedimento transcorreu sem nenhuma dor. Talvez o único prodígio que o monge magrelo pediu para si.
São Francisco não tinha nada de santo ecológico nem de amante de passarinhos, como aparece nas pinturas e nos santinhos. Era, antes de mais nada, um cara de alteridade absoluta, que chamava de irmão o Sol, a Lua, a Morte. Tudo com uma atitude de respeito e reverência. Se estivesse vivendo em nosso mundo seria internado como esquizofrênico ou um bipolar, com delírios de cunho místico. Talvez um yogue dissesse que Francesco foi um raro homem nascido no Ocidente que conseguiu abrir o seu Chakra do Coração, vivendo a experiência do Amor pleno por todos os seres. Já tentei escrever um livro que falasse dele, mas o livro não funcionou. O título seria bem legal, que seria “Perto do Coração de Fogo”, uma paráfrase de um livro de Clarice Lispector, “Perto do Coração Selvagem”. Francesco tinha o coração de fogo, e quem vai a um de meus consultórios nota algumas imagens dele. Dependendo da religião do cliente, ver imagens de um santo católico pode causar algum desconforto, mas é uma pena, é um consultório de um junguiano, não acho que deva ser uma tela branca sem nada que revele alguma característica pessoal do terapeuta. Tinha uma namorada psicanalista que achava isso tudo o ó do borogodó, eu não consigo acreditar em um encontro terapêutico em que a subjetividade do terapeuta não interfira, para o bem ou para o mal. O namoro não vingou com todas essas discussões teóricas.
Vários séculos depois de Francesco ainda temos muita dificuldade em expandir nossos chakras cardíacos, com a experiência amorosa, a experiência de abertura e expansão do Irmão Fogo em nosso mundo interno. São muitas as perdas e as decepções que vão moldando o nosso velho Ego. Lembrando de um post recente, de Sábado agora, apanhamos muito para expandir a nossa Base Egóica. Já a experiência amorosa deve ser uma questão de treino e aprendizagem. Diária. O Papa assumiu uma gigantesca herança e responsabilidade quando adotou o nome de Francisco. Vai precisar aquecer diariamente o seu e o nosso coração.

3 comentários:

  1. Que lindo! Bjs, Priscila

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  2. Muito legal o seu texto! Acho que devia insistir no livro.

    O que mais temos que pedir a Deus é sabedoria para diariamente aprender a amar e a ver a presença da Graça.
    bjos,
    Lucia Andrade

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  3. Insista no livro. Irmão do Fogo é um título mais simples, aproveite.

    Beijo e boa sorte.

    D.

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