segunda-feira, 6 de maio de 2013

Good, Will Hunting

Os leitores desse blog devem ter notado que eu curto uma TV a Cabo. A TV a Cabo é como um Congresso de Psiquiatria: muita porcaria, muita redundância, várias reprises entediantes e, de vez em quando, uma apresentação legal, desconcertante, um debate que vale a pena, um documentário incrível. Eu gosto de garimpar congressos, livrarias e programas de TV a Cabo. Outro dia encontrei um amigo no Congresso, ele me viu antes e não conseguiu me alcançar. Foi direto até a livraria, onde me encontrou. Não foi difícil de adivinhar.
Pois estava garimpando a TV a cabo ontem, bem naquele horário que a música do Fantástico desencadeia o blues de final do Domingo, quadro depressivo sazonal e que começa quando soam os primeiros acordes da música do Fantástico, antigamente chamado de “O Show da Vida”. Pois a TV a Cabo me salvou também dessa. Estava vendo, de novo, o “Gênio Indomável”, “Good Will Hunting”, o filme que lançou, no final dos anos 90, Matt Damon e Ben Affleck ao estrelato. Já escrevi posts sobre esse filme e talvez até algum diálogo da Vovó; a velha meio adocicada tentava explicar para a netinha o trocadilho com o nome do personagem principal, Will Hunting, um jovem órfão, vindo de um lar disfuncional, com o pai alcoólatra e espancador (enquanto estava vivo). Will tinha tudo para ser mais um jovem do South Boston a seguir o comportamento violento de seu pai e terminar no sistema prisional americano, não fosse por uma característica peculiar: ele é portador de habilidades especiais, antigamente chamado de superdotado (Superdotado é um adjetivo mais utilizado na divulgação de filmes pornô hoje em dia). Will é um gênio matemático natural, que trabalha como faxineiro em uma Universidade renomada. Ele resolve um problema extremamente complexo deixado na lousa da disciplina de Matemática avançada. Ele tem uma capacidade prodigiosa de leitura e aprendizagem e, como muitos portadores dessa capacidade intelectual assombrosa, tem dificuldade de adaptação às regras de pessoas que pensam mais devagar que eles. Ele é um solitário e tem amigos da classe operária se Boston que não são exatamente brilhantes.
Esse personagem de Matt Damon se envolve em mais uma encrenca, recebe como sentença a obrigação de se submeter a tratamento psicológico. Ele vai desestruturando todos os que tentam tratá-lo, em cenas bem engraçadas. Até cair nas mãos de um psicoterapeuta fracassado, deprimido e com métodos muito esquisitos. Robin Williams faz esse terapeuta incrivelmente triste. Já falei isso no post sobre o filme “Brilho de Uma Mente Sem Lembranças”: só os comediantes deveriam fazer os papéis de deprimidos (lembre de um Jim Carrey incrivelmente triste nesse filme). Incrível a tristeza desse personagem do engraçadíssimo e por vezes chato Robin Williams. O embate terapêutico entre os dois é um ponto alto do filme. Em um desses diálogos, o pequeno gênio conta de um encontro que teve com uma garota especial e divertida. Ele não ligou no dia seguinte, como tantos caras depois de um primeiro encontro, para desespero das meninas. O terapeuta esfrega os olhos e sussurra: “Você é um amador, caramba”. Na relação terapêutica, o terapeuta vai dar o testemunho de ter amado profundamente uma pessoa, uma mulher que ele viu morrer depois de poucos anos de casamento. Ele dá o seu testemunho do risco de se amar alguém. Não que terapeutas devam se usar como exemplos para a vida de qualquer pessoa, mas nessa relação romanceada, até que vale o exemplo. Amar é, sobretudo, correr riscos. Risco do amor acabar, do outro ir embora, ou adoecer. Mas nada em nossa vida resuma mais o significado de nossa passagem por esse mundo do que a nossa capacidade de amar e correr o risco de perder o que amamos.

5 comentários:

  1. Nós não perdemos o que amamos...acredito que não é uma perda e sim, um aprendizado.... se aprendermos a olhar tudo como aprendizado sempre ganharemos... :) A.M.

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  2. Superdotado ! Kkkkkkkkk.


    Ganhar sempre é difícil.


    Edison

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  3. se vc coloca "ganhar sempre" como algo que tenha uma resposta positiva para sua expectativa, com certeza será difícil. Se você quebrar o paradigma de que "ganhar" tem que ser algo favorável e passar a enxergar "ganhar" como um acréscimo a sua "alma" talvez sua perspectiva sobre a palavra " ganhar" mude! Cada "observador" cria sua própria realidade sob o mesmo experimento!!! A.M.

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  4. Mais uma vez, obrigado a esses bravos e regulares comentadores. Abç a ambos.

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