domingo, 19 de maio de 2013

O Ego e o Labirinto

Uma leitora pediu para eu me estender no assunto de Ego. A frase do penúltimo post que gerou a pergunta é que passamos metade da vida para termos um Ego e a outra metade para nos livrarmos dele. É uma frase bacana, mas irreal, claro. Só deixam de ter um Ego os psicóticos graves, os pacientes em coma ou os grandes iluminados. Se você, leitor e leitora, conseguir se livrar completamente de seu Ego, não vai haver nada em sua Psique que possa contar a história. O Ego não pode ser eliminado, mas pode ser deslocado de sua posição central. Essa é a questão.
Vamos ao meu exemplo preferido de Ego inflado e suas consequências trágicas: o presidente do querido São Paulo Futebol Clube, Juvenal Juvêncio. Juvenal parte do princípio, para ele inquestionável, de que ele é o cara mais experiente, mais vitorioso e mais astuto que já ocupou o gabinete da Presidência desse clube. A estrutura que ele montou é perfeita e o técnico é uma figura decorativa, pois com a Estrutura que ele proporciona qualquer um com um mínimo de preparo vai ser campeão. Esse Ego demorou muito tempo para se formar. Jujú esteve à frente de algumas das maiores glórias que o tricolor já obteve, principalmente quando é o Diretor de Futebol. Quando é o Presidente, seu Ego cuidadosamente esculpido perde um pouco o controle e comete um engano muito comum aos Egos, que é o Egocentrismo. Com o novo fiasco do tricolor nos campeonatos desse ano, Jujú mandou 7 atletas para a geladeira, pois um Ego algo inflado precisa de culpados para depositar sua frustração. Como qualquer um pode ser culpado, menos ele e a incrível Estrutura que ele montou, então técnicos, jogadores, funcionários, adversários, diretores de federação, todos devem pagar pela sua mágoa, menos ele. Ter convicção em sua capacidade, tomar decisões difíceis, pleitear o sucesso depois de muito investir e muito se preparar, são tarefas de um Ego bem estruturado. Examinar os próprios erros e perceber que repetir os mesmos erros geralmente leva aos mesmos resultados é tarefa de um Ego mais maduro, capaz de abrir mão dos próprios dodóis e se debruçar sobre as críticas para separar o joio do trigo. Isso demanda um Ego que consiga colocar-se e colocar os próprios erros em perspectiva. Sobretudo, incluir-se, sempre, na cadeia de responsabilidades. Descer da sua torre de Onipotência e procurar pelas alianças, em vez de castigar e ameaçar novos bodes expiatórios.
Quando Saulo de Tarso, também conhecido como São Paulo, escreve: “Já não sou eu quem vive, mas é o Cristo que vive dentro de mim”, está descrevendo um processo de sacrifício de seus primados egóicos, para a sua consciência conseguir se ampliar para além dos limites estreitos de nossos apegos. Esse é o Ego que deixa o centro da ribalta e sabe que é uma pequena parte de tudo o que acontece e que não pode, nem deve, impor os seus caprichos para a Vida, mas ser um bom bailarino que dança conforme a música inaudível dessa maestrina. Podemos entender a música da Vida em alguns momentos, mas não podemos querer controlar seu repertório.
Tirar o Ego do centro de nossas preocupações e angústias, torná-lo um intermediário entre o mundo Consciente e Inconsciente, essa sim é uma tarefa para a vida toda. Para isso, leva vantagem quem sabe fazer perguntas e se questionar, todo dia. Não é fácil e exige prática. Mas dá para fazer.

Um comentário:

  1. Acho que entendi, mas dançar esse ballet é realmente tarefa para toda a vida. Será que, então, todos temos a mesma "missão"? Ou estou misturando os assuntos?

    De qualquer maneira, valeu!

    D.

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