domingo, 16 de junho de 2013

Felicidade Compartilhada

Há uma cena de um filme já meio antigo, “Uma Mente Brilhante”, em que um jovem matemático, John Nash, tem uma inspiração que definiu o rumo de sua obra e um futuro prêmio Nobel, além de ter dado origem à Teoria dos Jogos. Estão todos os amigos em um bar nos arredores de Harvard, quando entra no recinto uma loira estonteante com algumas amigas. Mesmo entre gênios da Matemática o papo é quem vai chegar na moça e quem vai ficar com as outras, não tão bonitas. John Nash tem então o seu grande insight: se todos tentarem ficar com a gostosa, todos serão rejeitados; se, depois de tomar um fora, tentarem as outras, serão rejeitados novamente, já que as moças não vão topar serem uma segunda opção. A única forma de terem sucesso seria estabelecerem uma cooperação, ficando com as outras meninas e rejeitando a mais bonita. Com essa introvisão um tanto etílica, John Nash deu um petardo no Capitalismo e nem percebeu. Acertou também o darwinismo social. Toda concepção que somos seres eminentemente competitivos disputando, derrotando, prevalecendo. Dos anos 80 para cá o Capitalismo virou um supercapitalismo. Todos tem metas de produção, de vendas, de imposição da própria vontade sobre os outros. Mesmo na vida corporativa, quando se pedem que os grupos sejam cooperativos e interligados, essa cooperação é voltada a objetivos de derrotar a concorrência, a equipe da sala ao lado, os malditos chineses. Estamos sempre tentando ganhar de alguém.
Quando vemos a propaganda de uma operadora de celular, onde um simpático cachorrinho come bolhas de sabão e um bebê se desmancha em gargalhadas, a imagem deliciosa está lá para comprarmos mais celulares, ou trocarmos de operadora. Todos os recursos são voltados ao consumo e à realização do desejo de cada um. Não é à toa que batemos ano a ano todos os recordes de obesidade, já que estamos num mundo que estimula, o tempo todo, nossa voracidade, nossa fome e sede infinitas.
Um modelo de cooperação impensável seria um hipermercado comprar das pequenas quitandas para elas não irem à falência; uma rede de pequenas livrarias se unirem para vencerem as Bookstores gigantes; concorrentes colaborando entre si para uma distribuição justa de lucros. Alguém consegue imaginar o estabelecimento desses sistemas de colaboração e parceria? Cultivar sempre a capacidade de diálogo e auxílio mútuo?
John Nash mostrou, com equações complexas, que a única forma de se lograr êxito é combinando o interesse individual com o interesse do grupo. Todas as correntes místicas, de todas as religiões, partem do princípio de que somos todos interdependentes, não há nada que ameace a sobrevivência de um que também não ameace o grupo. Uma forma quase infalível de se atingira a infelicidade é a busca permanente e pós moderna de se encontrar a felicidade como uma realização pessoal, individual. É por isso que os consultórios vivem cheios de pessoas que buscam uma felicidade que não possa ser compartilhada.

Um comentário:

  1. "John Nash mostrou, com equações complexas, que a única forma de se lograr êxito é combinando o interesse individual com o interesse do grupo. Todas as correntes místicas, de todas as religiões, partem do princípio de que somos todos interdependentes, não há nada que ameace a sobrevivência de um que também não ameace o grupo."

    Pois bem, dr, o tempo urge: comentários sobre a insurreição brasileira do junho de 2013 à luz da interdependência grupal...

    No aguardo.

    Abraço,

    D.

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